A vida urbana pensada em grande
Organismo consultivo do Lisbon Mobi Summit debateu ideias e conceitos para as smart cities.
Miguel Gaspar, vereador da Mobilidade da Câmara de Lisboa, quer mais transporte público na cidade e uma relação próxima com os municípios vizinhos, de onde chega grande parte das pessoas que diariamente trabalham e estudam em Lisboa. "Dois terços da população ativa de Lisboa não reside em Lisboa. Mais de metade das viagens em Lisboa fazem-se de carro. E a maioria dessas viagens começam e acabam na cidade de Lisboa", diz. "Desta vez tem mesmo de ser." Foi assim que arrancou a primeira reunião do conselho estratégico da Lisbon Mobi Summit, iniciativa do Global Media Group em parceria com a EDP, mas também com a Via Verde, a Volkswagen e a Efacec. O vereador está determinado em avançar com a mobilidade elétrica para cortar com as emissões de carbono até 2030, dando resposta aos compromissos europeus. "Temos de envolver as várias partes, dos autarcas aos vários operadores de transporte, passando pelos consultores." Na sua opinião, a solução passa pelo transporte público. E, reclama, "o transporte público que temos não serve". Só resolvemos os problemas da mobilidade de Lisboa se contarmos com o contributo de todos os seus "vizinhos", concorda Carlos Carreiras, presidente da Câmara de Cascais, um dos concelhos vizinhos. Na sua opinião, os municípios são importantes porque têm posse do ordenamento do território. "Fizemos o ordenamento de forma errada", reconhece. "Foram os presidentes de câmara que inventaram o termo smart cities porque chegaram à conclusão de que andaram a fazer "cidades estúpidas", lança, colhendo uma risada geral dos membros do conselho estratégico do Lisbon Mobi Summit, cuja primeira reunião aconteceu na sede da EDP na Avenida 24 de Julho, em Lisboa, e teve como moderadora Rosália Amorim, diretora do Dinheiro Vivo. "A diferença entre uma cidade inteligente e uma estúpida é que as inteligentes têm em conta as pessoas", diz. Mais do que uma questão política ou económica, para Carreiras, "é a ecologia humana que interessa", defendendo que a mobilidade deve ser sinónimo de democratização da oferta. Por exemplo, "a linha de comboios entre Cascais e Lisboa só não foi melhorada por uma questão política". Segundo o autarca, "houve assuntos que não foram analisados na perspetiva da satisfação das pessoas. Foi um problema ideológico de quem não era a favor da concessão das carruagens. O material circulante, ou seja, as carruagens foram há muito descontinuadas, trazendo graves problemas de manutenção. Este investimento já tinha sido acordado entre o governo e as autarquias de Lisboa, Cascais e Oeiras, mas não se chegou a realizar". "Em Cascais nem tudo é bonito: há zonas feias", reconheceu Carlos Carreiras, explicando que a sua preocupação é democratizar, dando a todos os cidadãos o acesso à mobilidade inteligente. Neste sentido, vai lançar um concurso para concessão do serviço de transporte coletivo que tem de estar a funcionar até final de 2019. Envolve acordos com a Carris, a CP e o Metropolitano, informou Carlos Carreiras, para quem o futuro passa pelo hidrogénio como fonte de energia do transporte. Também para Tiago Farias, presidente e CEO da Carris, a solução está no transporte público. A Carris quer fazer parte do futuro da mobilidade posicionando-se como operador preparado para integrar todos os modos de transporte e estar mais conectado. Mais integração "O futuro vai ser uma mistura", disse Luís d'Eça Pinheiro, CMO do Grupo Brisa e administrador da Via Verde Serviços. The right mix ou a mistura certa é o conceito de base da estratégia para a mobilidade da Brisa. "A solução está na melhor integração entre os vários meios de transporte", defendeu Luís d'Eça Pinheiro, que prefere falar de transporte coletivo do que de transporte público. Na sua opinião, a grande revolução vai acontecer quando começarem a aparecer operadores privados. Agregação é também a palavra de ordem da Volkswagen. A marca alemã de automóveis quer ser um agregador de serviços de mobilidade. "Estamos a investir 70 mil milhões de euros até 2025, dos quais 20 mil milhões são dirigidos aos veículos elétricos e 50 mil milhões para investigação na área das baterias, para que tenham maior autonomia e preço mais baixo", afirmou Pedro Almeida, administrador da Volkswagen. O grupo germânico criou uma nova marca. A Moia é uma empresa que integra o grupo Volkswagen desde 2016 e que oferece uma série de serviços de mobilidade on demand. Com sede em Berlim, quer conquistar a liderança deste mercado até 2025.Maria João Alexandre