
Ângelo Sarmento: "Estamos a criar uma rede de energia inteligente aberta ao mercado"

As cidades do futuro precisam de redes inteligentes de energia e a EDP Distribuição está a investir nesse sentido, assegura Ângelo Sarmento. O administrador revela que a empresa já instalou mais de 1,2 milhões de contadores inteligentes e que os ganhos de eficiência tenderão a aumentar. A elétrica está envolvida em projetos europeus de ponta.
Como é que uma empresa como a EDP Distribuição participa no desenvolvimento de uma cidade inteligente?
Enquanto gestora da infraestrutura elétrica, a EDP Distribuição tem uma participação ativa, desde logo porque quando falamos em cidades inteligentes, estamos a falar em utilização racional de energia, mais digitalização, descarbonização da economia e eletrificação do consumo. E, para isso, é preciso ter uma infraestrutura elétrica que possa servir novos agentes com serviços para o consumidor.
Quer dar um exemplo concreto?
Em 2007 lançámos o InovGrid, um projeto-piloto em Évora que foi uma antecipação da revolução tecnológica. Instalámos 31 mil contadores inteligentes, que fornecem informação em tempo real, e ficou demonstrado que se as pessoas tiverem conhecimento dos seus consumos podem mudar comportamentos, diferi-los para outras horas e usar os eletrodomésticos de forma mais eficiente.
As poupanças são mensuráveis?
Registamos poupanças de 4% na fatura dos particulares e de 10% em algumas entidades, só por terem passado a conhecer os consumos. Replicando a uma escala maior tem um impacto muito relevante. Já instalámos mais de 1,2 milhões de contadores e vamos continuar o processo.
Que impacto na rede e na economia?
Para o cliente é positivo porque poupa dinheiro. Ao nível das redes permite-nos monitorizar as necessidades de investimento e manutenção que é necessário fazer, evitar interrupções e os consequentes impactos na economia.
O que podem vir a ser as redes inteligentes de energia?
Têm de estar preparadas para disponibilizar ao mercado todos os dados necessários para que possamos ter edifícios inteligentes, mobilidade elétrica, armazenamento, iluminação pública com regulação remota dos níveis de iluminação, etc. Tudo isso já está testado e pode ser usado, é uma questão de tempo.
O que vai avançar primeiro?
Acho que está tudo a avançar. Cada vez há mais carros elétricos, o que vai exigir mais inteligência da nossa infraestrutura para se poderem carregar fora das horas de ponta, nas horas em que a energia não é tão cara, para evitar reforçar a rede. Para isso há que explorar a capacidade de os veículos devolverem a energia armazenada para poder ser utilizada por outros consumidores. Há tecnologia. Só temos de garantir que isso não vai causar perturbações na rede.
O que é preciso ajustar para abordar o crescimento da mobilidade elétrica?
As nossas redes estão preparadas. Temos investido nas redes de baixa tensão e estamos a investir em cibersegurança e privacidade dos dados.
Qual vai ser o impacto do acréscimo do consumo? O preço vai aumentar?
Haverá um acréscimo do consumo por via da eletrificação dos transportes, mas teremos, por outro lado, mais eficiência energética, porque a gestão será mais inteligente. Estima-se que até 2050 mais de três milhões de viaturas estejam a carregar na rede. O preço, esse, dificilmente será mais barato.
Em que ponto estamos relativamente à integração das energias renováveis na rede? Que percentagem?
Somos um exemplo internacional. Conseguimos fazer essa integração sem que houvesse perturbações. Já estivemos quatro dias seguidos só com energias limpas. Foi pontual, mas temos todos os dias percentagens elevadas de energia renovável na rede. Num fim de semana com sol podemos ter 100% e até exportar.
A EDP está em projetos europeus...
Estamos no sharing cities a testar um conceito de cidade inteligente, com partilha de dados entre entidades. Por exemplo, podemos sinalizar as zonas com maior consumo energético e essa informação é vital para câmaras e outras entidades, porque indica onde há mais pessoas e atividade económica. E vale dinheiro. Também podemos contratar com certos clientes o desligamento dos consumos em períodos críticos. E já há um novo negócio: agentes que angariam este tipo de consumidores.
Carla Aguiar