Camiões autónomos atraem investimentos

2018
06-09-2018

Depois da Uber fechar a Otto, unidade de negócio para os camiões autónomos, os seus fundadores criaram uma startup para explorar o potencial deste negócio de futuro. Só nos Estados Unidos há 51 mil vagas de emprego por preencher, para condutores de longo curso.

Menos de dois anos depois de comprar a promissora Otto, uma startup de camiões autónomos, a Uber encerrou a unidade de negócio e declarou que vai focar-se nos carros. Foi uma decisão inesperada, tendo em conta que a gigante de São Francisco tinha investido centenas de milhões de dólares neste negócio, com a intenção de o lançar antes mesmo dos carros autónomos. A ideia seria usar camiões para transportarem carga em rotas seguras e bem definidas, provando o conceito de autonomia com tecnologias instaladas em camiões da Volvo. "Recentemente, tomámos o passo importante de regressar às estradas públicas em Pittsburgh, e à medida que tentamos continuar esse momento, acreditamos que ter a energia e experiência de toda a equipa focada neste esforço é o melhor caminho em frente", disse Eric Meyhofer, chefe do Uber Advanced Technologies Group. No entanto, a explicação para o fim dos camiões autónomos na Uber poderá ser mais profunda. A empresa viu-se envolvida numa séria disputa legal por causa da propriedade intelectual trazida ilegalmente da Waymo por um dos fundadores da Otto, Anthony Levandowski. O caso chegou a tribunal no início deste ano, com a Google, que detém a Waymo, a demonstrar que o ex-funcionário descarregou e levou consigo milhares de ficheiros relativos a tecnologias autónomas em que a empresa estava a trabalhar. Google e Uber chegaram a acordo e o processo foi resolvido, mas a instabilidade na unidade – e o facto de as soluções se basearem na tecnologia de outrém – terão ditado o fim dos esforços da Uber. O que os problemas da Otto não ditaram foi o fim do sonho. Anthony Levandowski pode ter arruinado a sua reputação e carreira, mas tal não foi o caso do outro cofundador, Don Burnette, que trabalhou cinco anos na Google antes de sair para fundar a Otto. Assim que saiu da Uber, após o início do julgamento em tribunal, Burnette criou a nova empresa Kodiak Robotics em conjunção com o investidor Paz Eshel. Apenas dias depois da decisão da Uber, em agosto, os empresários anunciaram uma série A de financiamento de 40 milhões de dólares. Um montante extraordinário para uma startup tão recente que ainda não produziu tecnologia visível. No site, a Kodiak informa que está a "desenvolver tecnologia autónoma para camiões de longo curso" e convida potenciais candidatos a juntarem-se à empresa, que tem uma equipa "com muita experiência." "Este financiamento, apenas três meses depois de fundarmos a Kodiak Robotics, é uma tremenda validação da nossa visão", disse Burnette no anúncio da ronda. "Acreditamos que os camiões autónomos vão provavelmente ser os primeiros veículos a suportarem um modelo de negócio viável, e estamos orgulhosos por ter o apoio de investidores de tão elevado perfil a a ajudarem-nos a executar o nosso plano." Segmento explosivo O fim do investimento da Uber não significa que este não seja um segmento com enorme potencial, tal como demonstram vários investimentos recentes em empresas de camiões autónomos. O caso da Kodiak Robotics é interessante, porque a valorização da equipa com um financiamento inicial tão substancial reflete a importância que os transportes de mercadoria autónomos poderão ter no futuro e o estatuto da equipa na linha da frente, dada a sua experiência e tecnologia. Burnette acredita que este segmento será mais importante que o dos carros para transporte de pessoas, até porque um dos grandes problemas da indústria é a escassez de condutores de camiões de longo curso. Só nos Estados Unidos, onde 70% das cargas são transportadas por estrada, estima-se que haja um fosso entre a oferta e a procura de 51 mil lugares vagos para estes empregos. É também isso que explica o interesse da Tesla neste segmento: a empresa de Elon Musk está a desenvolver o Tesla Semi, um camião semi-autónomo revelado em novembro de 2017. E há ainda a notar o levantamento de 30 milhões de dólares pela startup Embark, numa Série B financiada pela Sequoia. A Embark está a desenvolver tecnologia autónoma para camiões e tem como missão "revolucionar o transporte comercial", operando neste momento a maior rota de testes autónomos do mundo. Quanto à Uber, vai continuar a apostar na Uber Freight, uma unidade de negócio que conecta empresas de transportes e condutores de camiões.

Ana Rita Guerra

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