
Lisboa está muito dependente do carro particular

A mobilidade está a melhorar graças à visão que a Câmara Municipal de Lisboa tem para o futuro, diz o estudo City Mobility, da Deloitte.
Lisboa está muito dependente de automóveis particulares. O trânsito é congestionado e os acidentes têm maior probabilidade de ocorrerem. A culpa é da geografia da cidade e das estradas estreitas que levam a engarrafamentos e dificultam as manobras dos "elétricos." Estas são algumas das conclusões do relatório "City Mobility" da consultora Deloitte, que fez uma análise a 18 cidades em todo o mundo. Publicado em junho deste ano, resume: "Com uma elevada percentagem de viagens feitas em veículos privados (53%), Lisboa é uma das cidades onde é mais difícil conduzir devido às suas estradas estreitas, à sinalização inadequada e aos lugares de estacionamento limitados." Para reduzir o peso do automóvel no sistema de transportes, Diogo Nuno Santos, partner da Deloitte e especialista na área da mobilidade, defende a "melhoria da integração entre os diferentes sistemas de transportes". Mas, na sua opinião, essa integração deve também ser feita de forma intermunicipal, já que, como informa, "80% da população móvel na Área Metropolitana de Lisboa não é residente". Outra resposta possível ao excesso de automóveis particulares nas ruas da cidade é "alimentar os sistemas de transporte público pesado" com soluções que vão "da mobilidade suave ao estacionamento automóvel junto aos principais hubs dos sistemas de transporte público", conclui o consultor. No ranking da mobilidade, quando Lisboa é comparada com outras cidades no mundo fica atrás no indicador segurança rodoviária – isto apesar de ter "um sistema de transporte amplamente integrado", como ressalvam os autores. Explicam que "o sistema de transporte público tem uma força policial dedicada e é, na maior parte, seguro". No entanto, alertam para o facto de o sistema ser vulnerável à ocorrência de crimes, como o roubo durante as horas de ponta. Além disto, aponta o estudo, "a ausência de um regulamento jurídico claro pode impedir o novo desenvolvimento dos carros autónomos". Outra fraqueza a superar em Lisboa é o facto de a cobertura dos transportes públicos não ser universal nem acessível a todos. Inclusão é essencial Uma das observações mais pertinentes do estudo é que, apesar de Lisboa fornecer informação em tempo real e gestão de rotas para melhorar a satisfação do cliente do seu sistema de transporte público, cerca de 64% das estações de metro não são acessíveis a pessoas com deficiência. "Das suas 56 estações de metro, apenas 36 são totalmente acessíveis para pessoas com deficiência", lê-se no relatório. O que pensa Diogo Nuno Santos desta definição de prioridades? "A evolução de um sistema de mobilidade passa por melhorias nos aspetos estruturantes, mas também pela adoção de boas práticas. Uma cidade que pretenda ter um sistema de mobilidade alinhado com os novos padrões tem de investir na interação digital com os cidadãos, na prestação de informação em tempo real, entre outros." Para si, o financiamento destas opções pode ser assegurado por privados e assim libertar o financiamento público para os aspetos estruturantes do sistema de mobilidade. Ainda sobre o metro de Lisboa, sublinha-se que "é um sistema confiável (cumpre o horário em 98% das vezes) e tem altos números de satisfação do cliente". Já no que toca à emissão de dióxido de carbono para a atmosfera, o sistema de transporte na capital regista um bom desempenho. Outro aspeto positivo é o sistema de zapping que permite fazer pagamentos com rapidez, facilitando a mobilidade dos passageiros diários de metro e de autocarro – é algo que os autores elogiam pela conveniência que oferece. Medidas em curso Não há motivo para desanimar. Segundo os autores deste índice da mobilidade, que analisou dimensões como congestão, segurança, confiabilidade, integração, partilha, qualidade do ar, visão, inovação, investimento, custo para os utilizadores e acessibilidade a todas as camadas sociais, o transporte em Lisboa está a melhorar graças à visão que a Câmara Municipal de Lisboa tem para o futuro. "Preocupada com o envelhecimento da população urbana, a câmara está a investir na melhoria das infraestruturas pedestres para que se possa caminhar facilmente." O plano passa ainda por "duplicar a extensão das ciclovias e promover a mobilidade ativa para reduzir o congestionamento do tráfego, as emissões para a atmosfera e melhorar a saúde e o bem-estar dos cidadãos". Entre 2020 e 2050, os responsáveis pela autarquia darão início a um programa ambicioso: "Implementar programas para aumentar os modos de transporte ativos e modernizar os sistemas de transporte público. A cidade desenvolverá áreas para pedestres, espaços públicos partilhados e estenderá as ciclovias." Segundo o relatório da Deloitte, Lisboa está a instalar pontos de carregamento de veículos elétricos (VE) para promover a integração dos vários modos no sistema de transportes públicos. Outras iniciativas passam pela aquisição de veículos elétricos por operadores municipais e de serviços, pelo lançamento de bicicletas elétricas de carga, e ainda pela instalação de wi-fi gratuito nos transportes públicos. Estão a ser construídos estacionamentos próximos das estações de transporte para evitar que os carros particulares entrem na cidade. Neste projeto, os veículos pesados de mercadorias serão proibidos de entrar na cidade durante o horário de trabalho.Maria João Alexandre