Mobilidade eficiente retira metade das emissões do ar

2018
02-02-2018

A cidade de Lisboa poderia reduzir as emissões de dióxido de carbono (CO2) para metade se adotasse um sistema de mobilidade baseado apenas em metropolitano, táxis partilhados de quatro pessoas e um minibus on demand com capacidade para oito ou 16 pessoas. A conclusão é do "Lisbon Study", um estudo que é considerado uma referência mundial na área da mobilidade e foi apresentado por um dos seus autores, o diretor da PTV, Paulo Humanes, na sessão de arranque da Lisbon Mobi Summit. Aquela solução permitiria reduzir em dois terços o número de veículos em circulação na cidade e libertar em cerca de 80% o atual espaço destinado ao estacionamento. "É o mesmo que devolver uma área equivalente a 210 campos de futebol ao município, para ser destinada a outro tipo de utilizações, como jardins ou espaços para peões", resume Paulo Humanes. Português a residir no estrangeiro há mais de 20 anos, Paulo Humanes dirige a área de desenvolvimento estratégico de negócios da PTV, uma empresa alemã que planeia e otimiza o transporte de pessoas e bens em mais de 2500 cidades em todo o mundo. A otimização da mobilidade, através do desenvolvimento de soluções tecnológicas de software, tem um impacto real em termos ambientais passível de ser medida. Só na área da logística, a PTV diz-se responsável pela redução da emissão de 30 mil toneladas de CO2 diariamente, por via da gestão da mobilidade de cerca de um milhão de camiões em vários países europeus. No caso concreto de Lisboa, a solução estudada pela PTV previa um tempo de espera de cinco minutos pelo táxi e uma reserva do autocarro com antecedência de 30 minutos, sendo certo que a distância a percorrer a pé entre um ponto e outro para aceder a um meio de transporte não excederia nunca os 300 metros. "Este estudo teve um impacto muito grande a nível mundial e foi capa da The Economist, e todos os construtores automóveis o conhecem", lembra aquele especialista em mobilidade. Um cenário que pode ser complementado com outras soluções de transporte, como o carsharing ou as bicicletas partilhadas. Seja como for, hoje como há um século, parece não haver dúvidas de que é preciso mudar de modelo de mobilidade, porque o atual deixou de ser sustentável. Em 1894, quando Londres se debatia com sérios problemas de congestionamento de trânsito de carroças puxadas a cavalo, promoveu-se uma conferência internacional de transportes, em Nova Iorque, na qual se antecipava o pior cenário: em 50 anos a multiplicação de carroças iria inundar a cidade de estrume e urina e contaminar a população com doença e morte. Felizmente a profecia não se cumpriu e apenas 15 anos depois surgia o motor de combustão interna, uma solução que vigorou até aos dias de hoje. "É neste ponto de viragem que estamos, que nos traz imensos desafios para responder a uma série de novas necessidades", conclui aquele especialista. "Teremos de começar a pensar, por exemplo, em desenhar as estradas não para condutores humanos, mas para serem lidas pelos sensores dos veículos autónomos ou de como adaptar a forma física dos transportes a novas utilizações." Sim, porque Paulo Humanes acredita que poderemos, muito em breve, marcar uma reunião de trabalho no comboio, ver um filme ou combinar tomar um café no autocarro. Para tal, "os vários agentes e operadores têm de trabalhar juntos num ecossistema no sentido de encontrar soluções que são, ao mesmo tempo, novas oportunidades de negócio". Em todo o caso, a mobilidade do futuro está longe de ser um admirável paraíso. "Os problemas de acessibilidade vão continuar a existir, porque à hora de ponta a procura sobe e o seu preço também aumentará, pelo que ou a pessoa espera ou está disposta a pagar mais", admite aquele gestor. A palavra-chave para a mobilidade do futuro é integrar a diversidade de opções, entre o transporte público, o partilhado e o autónomo, dando liberdade de escolha.

Carla Aguiar

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