Pedro Pinto: "Duplicámos a frota para 300 motos"

2018
05-09-2018

Há um ano que são vistas em Lisboa as motas elétricas da eCooltra, disponíveis para serem alugadas via aplicação móvel. Não exigem carta de condução de veículos motorizados e têm um custo muito mais baixo que outros meios de transporte. Mais: podem ser usadas na faixa BUS para fintar o trânsito. A adesão dos lisboetas foi tão positiva que a empresa decidiu duplicar a frota de chegando às 300 motos este verão. Pedro Pinto, country manager da Cooltra para Portugal revela que a empresa está a celebrar parcerias para dinamizar este transporte e desenvolver serviços, tais como entregas porta a porta. Por exemplo, já fechou contrato com a Burger King e a Domino's Pizza. Porquê scooters elétricas partilhadas? Como surgiu a ideia? Em 2016 começámos a ver que os padrões de mobilidade estavam a mudar e o aluguer tradicional tinha os dias contados. Nessa altura fizemos uma parceria tecnológica com o CEIIA para fornecerem toda a parte de desenvolvimento, eletrónica e telemática das scooters. Ou seja, o coração eletrónico que está em cada uma das motas que neste momento estão em Lisboa, Madrid, Barcelona, Roma e Milão é tecnologia portuguesa produzida pelo CEIIA. Qual o investimento? Em 2017 investimos cerca de 7 milhões de euros, dos quais 1,5 milhões em Lisboa. Vamos continuar a investir. As scooters e as baterias são o grande bloco do investimento que fazemos. A marca é a alemã Covex e são produzidas na Polónia. Como reagiu o mercado português? A aceitação foi muito boa em Portugal. Foi uma aposta arriscada por parte da eCooltra, uma vez que Lisboa era a cidade com menos tradição ou cultura de duas rodas. Em Madrid, Barcelona ou Roma qualquer pessoa que visite vê motas, têm décadas de historial. Em Lisboa havia os sintomas mais preocupantes de trânsito e dificuldade de estacionamento, mas sem cultura de duas rodas. Felizmente para nós correu bem. Lançámos 170 scooters e tivemos uma aceitação grande. Estamos a ampliar para ter mais de 300 scooters no verão de 2018. Quem utiliza o serviço? Temos dois tipos de utilizadores. Uma franja mais jovem, universitários com idades dos 18 aos 25 que usam por lazer, para se deslocarem para um lado e para o outro na cidade, para irem ter com os amigos. Depois temos uma segunda franja, profissionais dos 25 aos 40 anos que utilizam as scooters para ir a reuniões, visitar clientes, por aí em diante. É necessário algum treino? Não, são equivalentes a 50 cm cúbicos. Qualquer pessoa com carta de condução de veículos ligeiros, categoria B, pode utilizar as nossas scooters. Conseguimos tornar a curva de aceleração muito suave, ao contrário das motas de combustão, que são explosivas e muito reativas. Isto permite que sejam muito fáceis de usar. De acordo com as sondagens que fazemos juntos dos clientes, grande parte são pessoas que nunca tinham andado em duas rodas anteriormente. Lisboa tem é uma característica própria, as colinas dão algumas dores de cabeça. Por isso a frota tem de ter mais potência, mais adaptada a Lisboa. Escutámos os nossos utilizadores e estamos a responder às necessidades que eles nos pedem de mais potência. Qual é a reincidência de utilização? Cerca de metade dos nossos clientes permanece depois do período experimental. Mais de 95% dos clientes são locais. A parte do turismo procura outras opções. O nosso utilizador médio usa a mota para viagens de 15 minutos, que custam 3,40 euros, o que comparado com um táxi é a bandeirada. São trajetos curtos, quatro ou cinco quilómetros. Descongestionam o trânsito? Sim. O engraçado é que fomos buscar utilizadores a todas as alternativas. Não fomos só retirar carros, mas pessoas que usam vários transportes de uma só vez. Vão de metro e depois para chegar ao local que pretendem apanham a eCooltra. O táxi ou o veículo privado têm o problema do trânsito e do estacionamento mais caro no centro da cidade. Pessoas que antes faziam o trajeto de bicicleta agora, com o calor ou com a chuva, preferem usar a eCooltra. Pretendem entrar em mais cidades? Estamos a querer consolidar nas cidades onde estamos e a fazer melhorias ao nível da eficiência do modelo de negócio, para conseguir que seja mais rentável. Depois, a partir daí, escalar para cidades com menor dimensão – seja Porto, Coimbra ou outras. O sentimento de segurança é maior por poder andar-se na faixa BUS? Exatamente, não têm de andar pelo meio do trânsito. Notámos que foi uma vantagem. Nós fomos o primeiro serviço de mobilidade partilhada que entrou de forma sistemática em Lisboa.

Ana Rita Guerra

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