
System Eye alerta condutores para evitar acidentes

A ideia surgiu quando o fundador Alex Bondarenko estava num táxi com a mulher e o filho pequeno e o condutor decidiu passar um sinal vermelho, apesar do tráfego pesado. "Pensei que era o fim", conta ao DN. O episódio levou-o a procurar no mercado um dispositivo que ajudasse os condutores a evitarem perigos, mas não descobriu nenhum. Foi por isso que decidiu despedir-se da consultora McKinsey e fundar a startup Discoperi, para desenvolver um sistema de deteção e alerta adaptável a qualquer tipo de carro.
Sediada em Madrid, a empresa tem uma equipa de dez pessoas a trabalhar no produto, denominado System Eye. "A ambição é ajudar a salvar vidas", declara Bondarenko, explicando que foram investidos cerca de 90 mil euros. Os testes estão a ser preparados para começarem em Madrid no final do verão, com uma amostra de 300 a mil veículos. A forma como o System Eye funciona é diferente de tudo o que existe no mercado neste momento. Consiste num micro-computador colocado atrás do espelho retrovisor com uma câmara que capta imagens a 120º e a capacidade de enviar dados encriptados para a nuvem via 3G ou 4G. Assim que o condutor se faz à estrada, o aparelho identifica elementos-chave no caminho do carro, tais como semáforos, interseções e comportamento dos outros veículos, e reporta informações importantes para o sistema central. Estes dados são analisados por ferramentas de inteligência artificial e reenviados aos carros nas proximidades de um acidente, um buraco na estrada ou outros problemas relevantes. "Todo este processo é feito em menos de um segundo", explica Bondarenko. Para funcionar, o System Eye precisa de estar instalado numa boa parcela de carros na estrada, o que explica porque é que a Discoperi está muito interessada em atrair táxis e autocarros, além de condutores individuais. O potencial é enorme, acredita o fundador, porque será possível enviar alertas em milissegundos com instruções de segurança. Por exemplo, se o sistema detetar um carro em contramão na autoestrada, pode avisar os condutores nas proximidades para se encostarem, e evitarem o perigo. Haverá dez níveis de alerta, que podem chegar pelo sistema de bordo do carro, pela aplicação no telefone ou integrados no Google Maps. O modelo de negócio não será baseado na venda de dispositivos. "Queremos construir uma comunidade que tire partido do enorme mercado de dados da indústria automóvel", explica o CEO. Este mercado abrange a forma como cada pessoa conduz, o estado das estradas, os semáforos, entre outras variantes, e estima-se que valerá 1,5 biliões de euros em 2030. Só que, em vez de deixar que sejam as construtoras automóveis a recolherem dados e a vendê-los, Bondarenko quer que sejam os condutores a lucrar. Como? Cobrando às empresas interessadas, como seguradoras ou gestoras de frotas, pela informação coletiva disponibilizada pelos carros e distribuir esse dinheiro pelos respetivos condutores.Um novo modelo de seguros automóveis
A questão dos seguros automóveis é levantada frequentemente quando se fala de carros autónomos. Se ninguém vai a conduzir, quem é responsável por um acidente? Como serão enquadradas as questões de responsabilidade civil e criminal previstas num seguro? Enquanto estes temas são debatidos, as seguradoras andam à procura de meios para distinguirem os segurados de maior e menor risco. Por exemplo, nos Estados Unidos, a Metromile coloca um aparelho de rastreio no veículo e cobra um montante variável, com base no número de quilómetros conduzidos e a localidade onde a pessoa mora e estaciona o carro (de acordo com a média de acidentes e de tráfego nessa zona). A Discoperi acredita que pode oferecer com o System Eye um método alternativo para as seguradoras, ao criar um ranking de performance dos condutores conforme o seu comportamento na estrada. A ideia consiste no seguinte: o aparelho recolhe dados dos carros que o rodeiam, tais como cor, marca, velocidade e atitudes (como virar sem fazer pisca), e essas informações são analisadas pelas fer-ramentas de big data e machine learning na nuvem. Uma vez extraídas as tendências, as seguradores podem oferecer premiums especiais a condutores acima da média. "Podemos usar estes dados para conseguir melhores seguros de acordo com a qualidade do condutor", explica Alex Bondarenko. O CEO sublinha que a partilha de dados é opt-in e que o intuito é melhorar a qualidade de condução na estrada. Pelo menos enquanto houver humanos ao volante.Ana Rita Guerra, Los Angeles