
Volkswagen, uma história eletrizante de quase 50 anos
A aposta da VW na mobilidade elétrica remonta aos anos 1970, em plena crise petrolífera. Mas o futuro já chegou e está na geração ID.
Hoje, como na década de 70, o tema da eficiência centra atenções na indústria automóvel. Naquela época, a crise petrolífera levou muitas companhias a apostarem em motores mais contidos e formatos mais racionais, com a Volkswagen a olhar, também, para as motorizações elétricas como forma de conter os consumos de combustível. Um paralelismo com a era atual, agora liderada pelos imperativos de reduzir consumos e as emissões poluentes, por forma a travar as alterações climáticas. A história elétrica da Volkswagen começa em 1970, três anos antes da crise do petróleo, com a marca alemã a criar um departamento denominado Zukunftsfoschung, ou seja, investigação para o futuro. Albert Karbelah era o líder dessa equipa com o primeiro resultado a ser revelado em 1972: uma carrinha Transporter T2 com autonomia para 50 km e baterias amovíveis através de uma empilhadora. Observando o interesse de muitas empresas, a braços com a necessidade de reduzir os consumos das suas frotas, a Volkswagen dedicou-se ao desenvolvimento da tecnologia e, em 1977, apresentou a sua primeira viatura de série elétrica, a Elektro-Transporter, também com autonomia para 50 km, diretamente derivada do protótipo original. Porém, a crise do petróleo começava a ser ultrapassada e o interesse na T2 elétrica desvaneceu-se – venderam-se apenas 20 unidades. Porém, o interesse da Volkswagen na tecnologia não desapareceu. O mesmo Karbelah teve igualmente a seu cargo o desenvolvimento de uma versão do Golf, cujo sucesso inicial surpreendeu a própria marca. Assim, em 1976 surgiu o Elektro-Golf, com motor de 20 kW (27 cv) alimentado por um conjunto de baterias de 16 v com a tecnologia da época (chumbo), recarregáveis através de uma vulgar tomada de 220 v, num processo que demorava 12 horas. Na senda deste, em 1981, surge o Golf I City Stromer, que foi o primeiro a ser utilizado em condições reais de estrada. Tecnologicamente, não diferia do Elektro-Golf, embora se destacasse já pela arrumação mais compacta dos módulos de baterias, libertando espaço para quatro ocupantes. Porém, o peso rondava a tonelada e meia (face aos 900 quilos do Golf comum), uma consequência da inclusão das baterias. Com velocidade máxima de 100 km/h e autonomia de 60 km, o Golf City Stromer acabou por ser um dos primeiros esforços viáveis da marca de Wolfsburgo no capítulo dos carros elétricos, como atesta a unidade exposta no museu da Volkswagen, que tem no conta-quilómetros um total de 20 473 quilómetros. A segunda geração do Golf deu continuidade à saga elétrica, com 70 unidades produzidas entre 1985 e 1991, mas é com o Golf III, nascido em 1993, que surge a decisão de comercializar em mercados específicos uma variante elétrica. Essa versão foi desenvolvida em parceria com a Siemens, numa produção que durou até 1996 com um total de 120 unidades matriculadas. De acordo com a marca, a uma velocidade constante de 50 km/h, já era possível registar autonomias na ordem dos 90 quilómetros. O tempo de carga das baterias até 80% levava uns mais toleráveis 90 minutos. Segundo a Volkswagen, nas estradas alemãs existem ainda diversas unidades desta geração em circulação, embora agora já adaptadas com bem mais modernas baterias de iões de lítio, que aumentam a autonomia e funcionalidade. Avanço rápido Após alguns anos sem versões de comercialização, a tecnologia elétrica foi recuperada para o Golf da sexta geração, nascido em 2010. Movida pela sustentabilidade ambiental e pela necessidade de acompanhar alguns dos avanços de diversos fabricantes, a Volkswagen retornou à mobilidade elétrica com o e-Golf. Apenas três anos depois, a Volkswagen ingressa na era moderna da eletromobilidade com o lançamento do e-Golf na sétima geração, uma versão que mantinha a funcionalidade de um Golf comum a gasolina ou a diesel, mas com emissões zero. A assinatura luminosa em C no para-choques dianteiro era distintivo para esta versão, que começou a traçar um novo capítulo na era da eletrificação, fruto do conjunto de baterias de iões de lítio de 24.2 kWh suficientes para 190 km de autonomia. Fruto dos rápidos avanços tecnológicos, quer na capacidade das baterias quer nos tempos de carregamento, o e-Golf recebeu em 2017 uma forte atualização. A novidade maior foi a bateria de iões de lítio, que passou a ter 35.8 kWh de capacidade e uma autonomia estimada de 300 km. Os tempos de carregamento foram igualmente reduzidos, levando cerca de 20 minutos para atingir 80% da carga total. Já o motor passou a debitar 136 cv. O próximo passo está já a ser delineado, nomeadamente com a chegada ao mercado da família elétrica ID, a qual irá incluir modelos de diversas tipologias, desde o compacto de cinco portas ao SUV, introduzindo definitivamente a marca alemã numa era em que a digitalização e a conectividade também irão motivar grandes disrupções.Pedro Junceiro/Motor24