Licínio Almeida: "Queremos o carro elétrico acessível a todos"

2019
26-06-2019

Ao colocar no mercado, em 2020, modelos 100% elétricos a partir de 30 mil euros, a Volkswagen quer tornar o carro elétrico banal e acessível à maioria dos europeus. Essa é uma meta clara, diz o diretor-geral da marca em Portugal. Os entraves como a autonomia ou o tempo de carregamento acabarão por se resolver com a evolução da tecnologia. O tempo, aliás, é o remédio para mudar não só as atitudes, mas também o uso do automóvel, que deixará de ser um objeto de desejo, passando a um serviço partilhado e integrado com outros meios de transportes. ?Qual o lugar do carro, tendo em conta que cada vez mais se incentiva o uso do transporte público e dos modos leves como a bicicleta?? O papel do carro será diferente, mas a sua função essencial, que é dar mobilidade aos cidadãos, manter-se-á como uma necessidade básica. Olha-se, muitas vezes, para o automóvel como um fator de congestionamento nos meios urbanos, mas com a evolução tecnológica, a sua mobilidade será mais inteligente. Ao tornar-se eletrizado, partilhado e conectado, caminharemos para uma predominância do software sobre o hardware. Isso vai refletir-se não só no produto, mas sobretudo na sua utilização mais racional e amiga do ambiente, permitindo aos cidadãos terem acesso à mobilidade quando e como quiserem. O carro será uma das opções entre outros meios de transporte, que podem ser combinados, alternados e coordenados de acordo com as conveniências e os ritmos que os estilos de vida citadinos impõem. Que mudanças sociais têm de acontecer para sairmos das boas intenções e entramos na rota da descarbonização? As pessoas estão hoje mais informadas e mais consciencializadas sobre o impacto ambiental daquilo que fazem. Ao longo das últimas décadas temos consumido muita energia e produzido muito desperdício, mas estamos a ganhar consciência de que é insustentável viver do mesmo modo. E, portanto, tudo aquilo que possa levar a uma utilização mais racional dos recursos – recursos esses cada vez menos poluentes – acaba por ser muito bem aceite. Penso que as sociedades têm reagido bem à urgência de mudar comportamentos não só para inverter a dinâmica do aquecimento global como para melhorar a qualidade de vida. Até que ponto o carro partilhado poderá ganhar espaço quando ainda há tanto sentimento de posse em relação a ele? Estou convencido de que isso se vai resolvendo à medida que as pessoas se aperceberem das vantagens não só ambientais como económicas. Para as gerações mais novas, por exemplo, a questão da propriedade já não é tão importante. Vamos tendo experiências de aluguer temporário de alguns fabricantes que nos mostram como há clientes predispostos a fazer essa mudança, e isso é um bom sinal. A Volkswagen prepara-se para lançar na Europa modelos 100% elétricos, o SUV ou o ID, a preços acessíveis. Que impactos espera provocar no mercado? A Volkswagen anunciou o primeiro ID, que chamou ID.3 e que é o primeiro membro da família ID. O SUV será o segundo modelo que vai surgir no inverno de 2020, ou seja, meio ano depois do ID.3, sendo sobretudo uma reação à procura no mercado europeu. O SUV, nas suas variadas categorias, já representa 30% das vendas e, sendo um fenómeno em crescendo, a Volkswagen não poderia deixar de dar uma resposta também no segmento dos elétricos, disponibilizando um modelo 100% elétrico. Aquilo que a Volkswagen está a fazer com o ID.3 é colocar no mercado um carro como uma autonomia de bateria de 550 quilómetros – é um dado significativo – por um preço a partir dos 30 mil euros, mostrando que um automóvel 100% elétrico está ao alcance da maioria dos compradores europeus. Até quando o preço, a par da questão da autonomia, será um grande entrave? O preço ainda é elevado, a autonomia ainda é curta e as pessoas têm medo de fazer grandes distâncias com um automóvel elétrico. Isso tem que ver sobretudo com a rede de carregamento ainda insuficiente. À medida que estas infraestruturas se forem disseminando, tornar-se-á mais fácil fazer viagens de 100 ou 200 km. O tempo de carregamento também é um obstáculo –15/30 minutos é muito diferente de três/quatro horas. A boa notícia é que a tendência é não só para os preços baixarem como para a tecnologia resolver esses entraves. O que a Volkswagen está a fazer com o ID é precisamente democratizar o veículo elétrico, que deixará de ser para uma minoria, passando a um produto produzido em grandes quantidades para se tornar corrente no quotidiano. Isso obrigará o mercado a reagir… Sim, a nossa estratégia vai obrigar o mercado a reagir, e a aposta da Volkswagen é muito clara: temos uma grande vontade em contribuir para a massificação das viaturas elétricas através de ofertas concretas e adequadas àquilo que o mercado precisa num processo que é irreversível.

Artigos relacionados

Aumento de acidentes com trotinetes leva a lançamento de campanha

Os dados ao serviço de uma revolução na mobilidade

Portugal Mobi Summit acelera hoje rumo ao futuro