
Usar o smarphone para medir os desperdícios dos edifícios públicos

Uma lâmpada ligada a noite inteira no escritório pode ser apenas um descuido. Mas, se somarmos todos os descuido, o que representa isso ao fim do mês na fatura energética de um edifício? As contas ficam por fazer, a não ser que o smartphone dos funcionários mais distraídos ative um alarme sempre que se esquecem de apagar a luz. A ideia já está a ser testada em vários projetos piloto conduzidos pelo laboratório LoRaLAB – sediado no ISCTE.
O objetivo é criar um aplicativo móvel que cabe no bolso e mede em tempo real os gastos e os desperdícios, usando as cores dos semáforos para gerar três tipos de alerta – o vermelho significa algo de errado que tem de ser imediatamente corrigido, o amarelo mostra pequenas variações que podem ser ajustadas e o verde indica que se está perante um funcionário ou uma funcionária exemplar que atingiu o equilíbrio entre níveis de conforto e de consumo. O resultado final é uma poupança na ordem dos 20% nas contas de energia de uma empresa ou instituição pública.
"Trata-se de uma ferramenta que usa sensores para demonstrar como o nosso comportamento influencia os consumos no local de trabalho", explica João Ferreira, coordenador do projeto concebido para medir o desempenho energético dos edifícios públicos. É, no fundo, um gadget incorporado no telemóvel e poderia até ser encarado como um videojogo: "O aplicativo não só permite verificar os consumos que estão a ser feitos, como possibilita também várias simulações."
É mais ou menos como se cada funcionário tivesse um comando para ditar as regras do jogo. Se baixar um grau de todos os ares condicionados quanto é que se poupa ao final do dia? E se deixar a janela aberta, quanta energia é desperdiçada até fechá-la na manhã seguinte? Todos os gestos, por mais insignificantes, têm consequências e o aplicativo também fornece sugestões do que fazer e não fazer para cumprir os objetivos da eficiência energética. Os que seguirem as boas práticas podem até entrar no ranking das salas mais eficientes ou, então, se fizerem tudo ao contrário, entrar na lista negra e por lá ficarem até mudarem o comportamento.
Todas estas soluções estão a ser experimentadas em vários locais. Desde logo em 40 salas distribuídas pelos vários edifícios do ISCTE – gabinetes dos docentes, anfiteatros e espaços de atendimento ao público. Até o apartamento de João Ferreira está agora reservado aos testes, tal como um infantário na região de Lisboa e um alojamento local de turismo localizado no bairro da Lapa, em Lisboa. "Neste último caso, o objetivo é incentivar os hóspedes a pouparem energia, na medida em que só pagam o que consomem", esclarece o professor e investigador no ISTAR-IUL- Centro de Investigação em Ciências da Informação, Tecnologia e Arquitetura.
O projeto do LoRaLAB arrancou há dois anos mas, só agora, com o financiamento de 50 mil euros atribuídos pela Fundação Calouste Gulbenkian é que ganhou um grande impulso: "Esta verba é que nos vai permitir finalmente validar os resultados."
Kátia Catulo