A covid-19 abriu caminho a negócios, produtos ou serviços ligados à descarbonização e às recentes tendências de mobilidade, defendem os convidados da terceira sessão do Portugal Mobi Summit.
A pandemia é uma "grande oportunidade" para lançar novos negócios, produtos ou serviços. Mais do que isso, é o caminho que agora se abre para colmatar a dependência da Europa - e de Portugal em particular - face à tecnologia asiática ou americana. Essa é a nova visão que terá de entrar rapidamente na agenda empresarial, alertam os três especialistas, que participaram na sessão III do Portugal Mobi Summit, dedicada ao tema da neutralidade carbónica e ciclo de vida.
Luís Reis, do CEiiA - centro de engenharia e desenvolvimento de produto -, Gonçalo Castelo Branco, da EDP Comercial, e Derek von Rönn, do grupo Volkswagen, estão convencidos de que o momento é único e é urgente agarrá-lo.
"Temos de olhar para as novas oportunidades nos serviços e produtos que possam ser concebidos, desenvolvidos e industrializados em Portugal, aproveitando algumas destas tendências e mudanças que vão agora acontecendo", defende Luís Reis, senior business manager de mobilidade do CEiiA.
Exemplos para ilustrar outras formas de trazer a inovação para o mercado não faltam. A começar pelo "tremendo" aumento da micromobilidade para assegurar as deslocações e o distanciamento social nas cidades: "Não existe aqui ou no espaço europeu uma cadeia industrial destes novos veículos elétricos", relembra o responsável pela mobilidade do centro de engenharia sediado em Matosinhos.
Reposicionar a estratégia
Há, portanto, margem para apostar nas indústrias associadas a estes movimentos que ganharam fôlego com a covid-19 e promover o "reposicionamento" estratégico da Europa como líder da tecnologia. As oportunidades não se esgotam com o boom das bicicletas, das trotinetes ou das scooters.
Toda a ciência e engenharia à volta dos veículos elétricos e, em especial dos sistemas de armazenamento, também está fora do continente europeu, sublinha Gonçalo Castelo Branco. "O que fazer com as baterias no final do seu ciclo de vida no carro é, por exemplo, outra dimensão que deveria merecer maior atenção", defende o diretor de smart mobility da EDP Comercial, recordando que a sua reutilização, após os oito a dez anos que duram num veículo elétrico, tem inúmeras aplicações.
Desde fornecer energia nas habitações, até aos minérios, como o cobre, o lítio ou o níquel, atualmente importados da Ásia ou da África, passando pela capacidade de armazenamento para providenciar eletricidade nas estações de carregamento: "A EDP inovação tem vindo a fazer testes em baterias second life e as conclusões são muito interessantes."
As novas aplicações são aspetos importantes, mas a reciclagem também não pode ser menosprezada, adverte Derek von Rönn. A percentagem dos materiais reaproveitados numa bateria pode crescer dos atuais 60% para 97%. "Esse é o projeto-piloto que temos vindo a desenvolver na estação que criamos perto da cidade de Hannover", exemplifica o responsável da Volkswagen para demonstrar o potencial deste recurso no impulso de "negócios locais".
Luís Reis, do CEiiA, Gonçalo Castelo Branco, da EDP, e Derek von Rönn, do grupo Volkswagen, foram os convidados da sessão III do PMS, moderada por Paulo Tavares.
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