As vendas de veículos elétricos cresceram 3% em maio, em contraciclo com o setor, e já consomem 70% de energia verde, diz o diretor de smart mobility da EDP Comercial.
A mobilidade elétrica vai ser o principal instrumento da descarbonização no curto e médio prazo, ainda que o hidrogénio prometa ser uma alternativa importante, considera o diretor de smart mobility da EDP Comercial, Gonçalo Castelo Branco. "São duas soluções que vão funcionar a tempos distintos, mas de forma complementar", diz o responsável do mesmo grupo que acaba de anunciar o encerramento da sua central a carvão em Sines, já em 2021, e a sua futura readaptação para produção de hidrogénio.
"O hidrogénio vai fazer sentido sobretudo no transporte de mercadorias mais pesadas e de longo curso, como camiões, mas também em navios e aviões", disse Gonçalo Castelo Branco em entrevista. Algumas construtoras aeronáuticas como a Airbus e a Boeing já têm, de resto, projetos nesse sentido e tudo indica que esta tecnologia venha a ganhar um grande impulso, por via dos estímulos financeiros que Bruxels vai disponibilizar para promover a energia verde, nota o responsável.
No caso dos veículos ligeiros, o diretor de smart mobility considera que "toda a cadeia de valor que já existe em torno da energia elétrica verde torna a adoção do hidrogénio menos fácil e atrativa".
A este respeito, Gonçalo Castelo Branco lembra que Portugal pontua particularmente bem na produção de energia limpa, sendo que "a capacidade instalada da EDP assenta num mix de energias renováveis superior a 70%, o que a torna um player interessante a nível mundial". Mas nem toda a mobilidade elétrica é 100% verde. Enquanto em Portugal essa percentagem ronda os 70%, em países como a China ou a Polónia, por exemplo, um elétrico tem uma pegada ecológica maior, porque aí a produção de energia está mais assente em fontes não renováveis, explica. Seja como for, um elétrico emite menos 68% de dióxido de carbono do que um veículo a gasóleo.
Crescer mais
"Portugal é um caso de sucesso em mobilidade elétrica", sustenta Gonçalo Castelo Branco, apoiado nas últimas estatísticas do mercado. Apesar das vendas totais de veículos terem caído 70% em maio, os veículos elétricos cresceram 3% face ao período homólogo. "E se em 2019 representavam 6,1% das vendas totais, este ano já são 10%, o que significa que a mobilidade elétrica está a ganhar quota de mercado".
Mas a base ainda é pequena, admite. Para crescer mais, há uma série de fatores que podem ajudar, desde o reforço da rede de carregamento, até à melhoria da perceção dos consumidores sobre a autonomia dos veículos. "São barreiras que se estão a desvanecer". Até porque a rede nacional está em expansão. A rede pública, antes operada pela Mobi.E, e que integra cerca de 660 pontos de carregamento acaba de ser adjudicada a operadores privados, sendo que a EDP ganhou três lotes de um total de onze a concurso, com a tarifa mais baixa. "Quase um terço da rede vai ser operada pela EDP, a par da rede que já estamos a construir e que terá mais de 300 pontos de carregamento próprios e em parcerias com várias entidades".
Quanto ao papel das políticas públicas e da margem para reforçar incentivos à compra de veículos elétricos, Gonçalo Castelo Branco considera que os existentes já são bastante interessantes, sobretudo para as empresas, que beneficiam de uma dedução de 100% no IVA. Prova disso mesmo é, para o responsável, o facto de sermos o quarto país da UE com a maior percentagem de veículos elétricos nas novas vendas. Ainda assim, estes continuam a ser mais caros, devido ao preço das baterias, que representam cerca de 50% do seu custo. "Com a estimativa de quebra acentuada dos preços das baterias dentro de dois a três anos, isso vai embaratecer os veículos e os incentivos fiscais deixarão de ser necessários", estima.
Apesar da pandemia estar a gerar muitas mudanças no uso do transporte público, o diretor de smart mobility da EDP acredita que mobilidade do futuro será mais autónoma, partilhada, conectada e intermodal, com recurso crescente às bicicletas e scooters elétricas. "Creio que a pandemia até veio favorecer este modelo de mobilidade, que nos traz uma cidade mais limpa", conclui.
Gonçalo Castelo Branco termina com a ideia de que "a era de transição energética que estamos a viver assenta nos três D: descarbonização, digitalização e descentralização e a EDP está a desenvolver soluções nessas três áreas, com parcerias e em rede".