A pandemia é a oportunidade de redesenhar a mobilidade para atender às necessidades das pequenas comunidades urbanas, defendeu o arquiteto finlandês, esta quinta-feira, em mais um webinar do Portugal Mobi Summit.
Agora que a pandemia deitou abaixo muitas ideias feitas, façamos um pequeno-grande exercício. "Esqueçam todos os conceitos que regulam as cidades ou as economias." O desafio foi lançado esta manhã por Marco Steinberg, arquiteto e designer finlandês, no webinar do Portugal Mobi Summit: "Esse é o ponto de partida para inovar, transformar e dar lugar a novas oportunidades", propõe o também fundador da consultora Snowcone & Haystack, sediada em Helsínquia.
"Como repensar a mobilidade a partir do zero?" foi o tema deste webinar, que serviu para Steinberg incentivar os participantes a mudar de escala. Que é o mesmo que dizer, diminuir o tamanho. "Com a Covid-19, surgiu a necessidade de reequacionar a mobilidade para servir grupos mais restritos e proteger as comunidades dos riscos de infeção", lembra o especialista.
A primeira vista, poderá parecer um desperdício de recursos, mas a médio prazo, este pode ser um bom pretexto para encontrar outras políticas de transportes e novas dinâmicas urbanas: "Num âmbito mais alargado, poderá até ser útil para redesenhar todos os outros setores, ligando áreas como saúde, educação ou economia, que andam de costas voltadas."
Neste momento, porém, os transportes públicos são para quem não tem alternativa: "Os desfavorecidos são os mais afetados."
É, por isso, necessário redesenhar as estratégias de mobilidade, adverte o CEO da Snowcone & Haystack. Não se trata de aumentar os quilómetros de autoestradas, de ferrovias ou de túneis para o metropolitano. "Mas antes repensar os transportes em função das necessidades das populações que mais dependente estão deles", defende o especialista.
A solução será sempre "híbrida", envolvendo não apenas os transportes públicos, mas sobretudo a micromobilidade para construir ecossistemas que deverão servir as pequenas comunidades: "Como designer que sou, não imagino de que forma a mobilidade pode ser repensada sem as bicicletas ou as trotinetes", esclarece o arquiteto, defendendo que essa é a via para criar mais empregos ou dinamizar comércio e serviços à escala local e onde serão mais necessários.
Mitigar riscos e desigualdades sociais
O desafio é encontrar respostas que permitam às cidades assimilar todas essas comunidades pulverizadas pela paisagem urbana. Mas, reduzir a escala é "absolutamente necessária para mitigar os riscos e introduzir humanidade nas cidades", defende Steinberg. Se o objetivo é estar atento às necessidades das populações mais fragilizadas, então, há que planear as cidades suportadas nas pequenas comunidades.
Essa é aliás uma urgência que salta à vista com as recentes convulsões, nos Estados Unidos, provocadas com a morte de George Floyd. O exemplo serve para o arquiteto finlandês mostrar como o modelo americano das grandes autoestradas "desconectou" as cidades e aumentou as desigualdades sociais: "É certo que criaram cinturas de segurança rodoviária, mas, ao mesmo tempo, permitiram atravessar as malhas urbanas e ignorar tudo o que acontece nas várias comunidades."
Transformar é, portanto, introduzir nesta equação a pequena escala para diminuir o desemprego, a pobreza, o racismo e, no fundo, a exclusão social, diz o especialista: "Daí a urgência de criar abordagens da mobilidade, servindo as populações locais para que os mais frágeis não caiam pelo caminho nem fiquem para trás."