Carlo Ratti. "Barcos autónomos e cruzamentos sem semáforos não são futurologia"

2021
21-10-2021

Usar os dados para redesenhar cidades e encontrar soluções é o foco do diretor do MIT Senseable City Lab que cria soluções ousadas para serem experimentadas de modo temporário, e depois, permanente.

Será demasiado futurista imaginar cruzamentos onde não são necessários semáforos para disciplinar o trânsito, porque os carros terão a 'inteligência' necessária para evitar acidentes? E onde, para além de drones e automóveis autónomos, também haverá barcos movidos por inteligência artificial? Carlo Ratti, arquiteto e diretor do MIT Senseable City Lab assegurou hoje que já nada disso é futurologia, na abertura do segundo dia do Portugal Mobi Summit. Ratti adiantou, de resto, que no final deste mês a cidade de Amesterdão vai estrear uma embarcação autónoma para navegar pelos seus imensos canais, com tecnologia desenvolvida pelo MIT Senseable City Lab. E a utilização tanto poderá ser para carga como para transporte de pessoas, assim haja regulação para tal. Este laboratório dedica-se a investigar e explorar a forma como as novas tecnologias podem mudar e melhorar a vida nas cidades. Esse é, aliás, o principal foco daquele laboratório, parte integrante do prestigiado MIT que, através dos dados e dos sensores que hoje em dia transportamos nos nossos telemóveis e nos veículos cada vez mais conectados, está apostado em descobrir novas possibilidades. Foi, por exemplo, através da análise de big data possibilitados pela georeferenciação, que o laboratório percebeu que em Manhattan havia centenas de milhares de pessoas que se dirigiam todos os dias na mesma direção, por exemplo para o aeroporto JFK, tendo surgido aí a ideia, ainda antes da Uber, de criar uma solução de mobilidade partilhada, que permitiria reduzir em cerca de 40% a circulação de automóveis na cidade. Mas alguém achou que os nova-iorquinos não eram fãs da ideia de partilha. "Estavam errados", atesta Carlo Ratti. Hoje a Uberpool é gigante e esta solução de mobilidade partilhada é um grande sucesso em várias cidades e em vários continentes. Porque é que a recolha e a análise inteligente dos dados é importante? Porque nos permite perceber, por exemplo, que em 95% por cento do tempo os carros estão parados, estacionados a ocupar espaço nas cidades, que é roubado a outras necessidades dos residentes. Em Singapura, por exemplo, onde existem mais de 1,3 milhões de lugares de estacionamento, a cidade está apostada em apostar a sério nas soluções de mobilidade partilhada, como via de reduzir as pesadas emissões de co2, mas também de aumentar o espaço disponível que é escasso. Soluções que permitiriam reduzir o espaço hoje ocupado por automóveis em cerca de 70%. Outras possibilidades oferecidas pela análise de big data feita no MIT é intervir na mudança do próprio espaço das cidades em função do que os dados nos dizem. Carlo Ratti defendeu que o espaço público não tem de ser sempre igual, de noite e de dia. Se de manhã, nas horas de ponta, as ruas podem ter faixas reservadas para carros, à noite ou aos fins de semana podem ter esplanadas, mercados ou outras atividades de lazer. Resumindo, trata-se, segundo Ratti, de envolver as pessoas no que elas querem para as cidades onde vivem de modo a serem mais felizes. E de ir fazendo exepriências, de modo temporário, para criar hábitos, e depois indo torná-las permanentes, defendeu aquele que é considerado um dos arquitectos mais irreverente e disruptivo da sua geração na construção das cidades do futuro.

Artigos relacionados

Há 50 modelos para experimentar até domingo no Encontro Nacional de Veículos Elétricos

Elétricos da Volvo Cars com os melhores resultados financeiros em 94 anos

Mobilidade elétrica: um futuro mais verde, tecnológico e económico

Patrocinadores