Energia nuclear e gás natural ganham selo verde da UE

2022
14-07-2022

Em plena crise energética, o Parlamento Europeu aprovou a certificação da energia nuclear e do gás natural como “sustentável”. Ambientalistas prometem luta nos tribunais, mas Portugal pode atrair investidores ao gasoduto de Sines

O Parlamento Europeu não conseguiu travar o rótulo "verde" para o gás natural e a energia nuclear, um plano da Comissão que acabou aprovado pelos eurodeputados na última quarta-feira. Com este plano, que causou protestos públicos e dividiu até o hemiciclo, estes dois recursos energéticos passam a ser considerados como sustentáveis e necessários na luta contra as alterações climáticas. Mas também imprescindíveis para a independência energética face à Rússia.

O “rótulo verde” europeu do gás natural e da energia nuclear pode atrair investidores para a construção do gasoduto do porto de Sines, em Portugal, sendo também positivo para outros países com projetos similares e que estejam a apostar na independência energética face à Rússia, em atual contexto de crise nos fornecimentos de gás natural por causa da invasão da Ucrânia por Moscovo. Mas, que não restem dúvidas: o projeto da Comissão Europeia aprovado em Estrasburgo na quarta-feira vai, ele próprio, gerar uma guerra nos tribunais.

As organizações ambientalistas internacionais Greenpeace e WWF prometeram ações contra a inclusão do gás natural e da energia nuclear na lista de investimentos sustentáveis da União Europeia (EU), após os eurodeputados não terem conseguido vetar a medida da Comissão. 

A Greenpeace anunciou que tomará medidas jurídicas contra a Comissão Europeia sobre a inclusão do gás fóssil e da energia nuclear na lista de investimentos sustentáveis da União Europeia (UE), a taxonomia. 

Mas antes até de avançar com a ação judicial, a Greenpeace apresentará um pedido formal de revisão interna da taxonomia à Comissão Europeia e, se o resultado for negativo, seguirá com uma queixa junto do Tribunal de Justiça da UE. 

Por seu lado, a WWF (World Wild Fund for Nature) anunciou que, em conjunto com outras organizações ambientalistas, irá “explorar todas as vias potenciais de ação futura para pôr termo a esta lavagem verde e proteger a credibilidade de toda a taxonomia da UE”.

Se não existir outra oposição ao projeto até 11 de Julho, este entrará em vigor a partir de 1 de Janeiro de 2023. Aliás, a taxonomia deve estar na agenda do Conselho de Economia e Finanças da próxima semana, a 12 de Julho, como escreveu o jornal Público. 

Para obterem a nova classificação amiga do ambiente, as centrais nucleares não podem emitir CO2 e as de gás natural têm de utilizar as tecnologias mais recentes.

A nova classificação, a "taxonomia", deverá favorecer o investimento privado em projetos de gás natural e de energia nuclear, numa altura em que a transição para as energias renováveis encontra diversos obstáculos a atrasar o processo, lembrou o site do Euronews. 

Independência energética: a nova meta

Até 2030 a União Europeia comprometeu-se a reduzir até 55% a emissão de gases de efeito estufa. Já as Nações Unidas estabeleceram 2050 para a “net zero”, ou seja, o ano em que o mundo atinge as zero emissões de dióxido de carbono. Estas metas estavam definidas antes da invasão da Ucrânia pela Rússia a 24 de Fevereiro deste ano, há quase quatro longos meses. Entrentanto, houve que mudar peças no tabuleiro do xadrez geopolítico.

O objetivo mais urgente agora é a independência energética europeia face aos combustíveis fósseis russos, para além do já decretado combate às alterações climáticas. 

Em Portugal há empresas que até reforçaram as suas ambições ambientais, como a EDP Comercial, que quer atingir o “net zero” em 2040, uma década antes da meta definida pela ONU. “Vamos ter uma aceleração das energias renováveis muito substancial na Europa. O plano de ação da Comissão Europeia, o REPowerEU, elevou a meta em 2030 de passarmos de 40% de capacidade de ter energias limpas para 45%. Isto é um aumento substancial e vai obrigar-nos, por exemplo, a duplicar a capacidade de energia solar que temos na Europa”, analisou a CEO da EDP Comercial, Vera Pinto Pereira, no debate do Portugal Mobi Summit, que decorreu esta semana. Também lembrou outro entrave, a mobilidade a combustíveis fósseis “que é responsável por 25% das emissões carbónicas nocivas”.

O REPowerEU é um plano de ação ambicioso que pretende acabar com a dependência energética da União Europeia até 2027, o que só é possível com o aumento e a aceleração das energias renováveis. Vai custar pelo menos 210 mil milhões de euros e contará com o InvestEU, o principal programa de investimento da União Europeia. A trabalhar em parceria com o Banco Europeu de Investimento, tem uma garantia de 26 mil milhões de euros da UE e espera-se que traga mais de 370 mil milhões de euros em financiamento público e privado.

Os investimentos concentram-se em quatro áreas: investimento sustentável, inovação, inclusão social e criação de emprego. Estima-se que pelo menos 30% deva contribuir para tornar a Europa neutra ao nível do carbono.

 

 

Rute Coelho

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