
Galamba diz que metas de produção de hidrogénio foram "largamente ultrapassadas"

Alguns projetos de investimento em hidrogénio verde e outras energias renováveis não podem avançar apenas por "incapacidade territorial" do país, observou o secretário de Estado do Ambiente e da Energia. Galamba diz que teremos de caminhar para a "compra centralizada de gases renováveis a um determinado preço"
Portugal tem condições privilegiadas para a produção de hidrogénio e de energias renováveis e só não avança mais por "incapacidade territorial", observou o secretário de Estado do Ambiente e da Energia, João Galamba, num debate do Portugal Mobi Summit que lançou a pergunta: "O hidrogénio e os combustíveis sintéticos são o passo decisivo para uma economia net-zero?".
João Galamba respondeu que "não" à pergunta do debate, "embora o hidrogénio e os combustíveis sintéticos tenham grande papel no transporte aéreo e marítimo e porventura a única possibilidade que temos". Face ao contexto atual de guerra com a Ucrânia, o governante anunciou que é o "momento oportuno" para retomar a medida da "injeção de gases renováveis na rede" porque o projeto do biometano e desses gases verdes são bancáveis ou financiáveis. "Vamos ter um sistema como existe na eletricidade em que haverá compra centralizada desses gases a um determinado preço", afirmou o secretário de Estado.
"Quando apresentamos a estratégia pensámos em compras centralizadas de hidrogénio e renováveis como temos na eletricidade no regime especial que são as tarifas garantidas das renováveis. A ERSE deu parecer negativo a essa proposta porque tínhamos o gás natural a 20 euros e não tínhamos guerra. Agora a situação alterou-se. O gás natural estava hoje a 210 euros. O preço não se manterá nos 200 euros durante 10 anos mas não vai voltar a ser de 20 euros. Parece que a questão do sobrecusto esá ultrapassada. E temos de reduzir obrigatoriamente o consumo de gás natural. Nós não temos termoestatos e o consumo doméstico de gás é de 5% e no aquecimento é inferior a 1%".
Luis Maia, da Agência Nacional de Inovação, André Pina, diretor de Estratégia para o H2 da EDP, Nuno Moreira, CEO da DouroGás e Paulo Marques CTO da Caetano Bus, também concordaram que os combustiveis sintéticos à base de hidrogénio não são a solução para a mobilidade ligeira mas talvez venham a ser para a mobilidade pesada e sobre isso "há debates em curso", como lembrou Galamba.
O secretário de Estado do Ambiente e da Energia, que veio de Sines para o debate do Portugal Mobi Summit, traçou um verdadeiro cenário de "El dorado" no concelho do litoral alentejano. "As metas de hidrogénio que queríamos até ao final da legislatura já ultrapassámos: tínhamos previsto 2,5 gigawats, só o projeto da Galp em Sines é 1,5 gigawats", frisou João Galamba.
O Governo olha para estes processos com "verdadeiro entusiasmo". O problema, diz Galamba, é outro, é a falta de capacidade territorial: "O grande desafio de Sines é onde metemos esta gente toda, como se dá casa a estas pessoas que ali trabalham? Há um território onde o debate é o oposto. Há imensos projetos de hidrogénio em Sines. Só em Sines temos 20 milhões de euros de investimento em curso, o Datacenter é o maior investimento desde a Autoeuropa. Somos energeticamente competitivos. O hidrogénio made in Sines, Estarreja ou Setúbal, todos esses projetos estão quase todos em curso".
E depois é preciso agilizar o caminho a quem quer investir nesta área tão lucrativa para o país. "O governo insiste na simplificação de processos de licenciamento porque temos consciência do que isto representa para cada um de nós. Desde produzir equipamentos, certificações, envolver as universidades, é um ecossistema perfeito". Com a vantagem de muito do que se produz poder ir para exportação: "Consumimos muito pouca energia quando comparado com outros países".
Luis Maia, da Agência Nacional de Inovação, referiu que a ANI tem uma " parceria para o hidrogénio, clean hydrogen, entre a União Europeia e uma associação que reúne a Galp e outros, para financiar a tecnologia de ponta". É uma produção que financia produção, distribuição e armazenamento de hidrigénio. "Esta agenda é de políticas públicas, devemos esperar os governos terem politicas públicas que estimulem o desenvolvimento de hidrogénio", apontou Luís Maia.
Neste ponto, o secretário de Estado João Galamba não o deixou sem resposta. "Na área da mobilidade havia muitas autarquias interessadas em postos de abastecimento de hidrogénio e queriam mais dinheiro e eu disse que tinham de pensar num projeto de abastecimento relacionado com a produção e o consumo. Esse é um exemplo de uma área onde se gastaria muito dinheiro e mal, pelo que há que abandonar a visão segmentada e olhar para a integrada, como está a fazer o presidente da Câmara de Cascais, por exemplo".
André Pina, diretor de estratégia para o H2 da EDP, lembrou que "até 2050 é preciso eletrificar ao máximo" e a guerra na Ucrânia "veio acelerar esse esforço". A estratégia para o hidrogénio é por isso muito importante no contexto macroeconómico, de criar novos empregos, referiu. "A própria comunicação da União Europeia sobre o Repower UE, a redução do gás esperada acelera os renováveis e o consumo de hidrogénio, o que reduz a dependència do gás natural". O responsável referiu que a EDP está nesta área "a planear projetos com os consumidores industriais e de larga escala para permitir uma descarbonização mais abrangente, a nivel de hidrogénio puro e derivados".
Nuno Moreira, CEO da Douro Gás, empresa que fez projetos para ter mais de 1000 postos de trabalho nesta área, vê "o hidrogénio como uma nova oportunidade de negócio" e que "seja o mais económico possivel". "Estamos a montar oito projetos numa joint venture, dois já financiados, um deles pelo PRR, criamos um ponto de escala de proximidade ao tubo de gás e a possibilidade de podermos transportar diretamente hidrogénio para a indústria. Temos um outro projeto com a Salvador Caetano junto à fábrica que produz autocarros de hidrogénio , um primeiro posto que irá abastecer essas viaturas, o posto é gasista, a viatura de hidrogenio é um elétrico. Temos também um projeto de metanol, em conjunto com outras indústrias porque há um apetite grande no transporte maritimo por metanol e esta ideia que veio da universidade é viável".
Paulo Marques , CTO da Caetano Bus, empresa que fabrica autocarros a hidrogénio e desde 2010 desenvolve soluçõs de mobilidade elétrica, frisou que "o PRR suportou 248 viaturas elétricas a circular nas cidades. Desde 2016 que começam a ser aplicadas frotas de veículos elétricos. Mas existem 5500 autocarros urbanos em Portugal. Onde estão os postos de transformaçã? O hidrogénio é uma forma de energia para suportar a mobilidade elétrica. Podemos continuar a produzir e posteriormente será usado nos veiculos". A principal vantagem, como lembrou, é prática e eficiente: "uma viatura a hidrogénio carregamos em 15 minutos".
Rute Coelho