Procura de carros elétricos vai subir 20% ao ano até fim da década

2022
18-07-2022

A rede pública de carregamento elétrico passou em três anos de uma das mais fracas para uma das melhores da UE, graças a um forte reforço do investimento, nomeadamente da Mobi.e e da EDP. É a transição energética a acontecer, reconhecem os oradores da terceira sessão do Portugal Mobi Summit.

Portugal está a recuperar terreno na mobilidade elétrica e a todo o gás. Se ainda há dois ou três anos o país se situava muito abaixo da média europeia em  número de pontos de carregamento por veículo elétrico, hoje a situação é bem diferente. “Vários estudos europeus colocam Portugal em lugares cimeiros do ranking”, contrapõe Luis Barroso, o presidente da Mobi.e que participou esta semana em mais um debate do Portugal Mobi Summit, desta vez, centrado no estado da arte e no futuro da infraestrutura de carregamento.

O melhor exemplo deste dinamismo é a rede pública de estações de carregamento da Mobi.e  ter crescido 59% em 2021 quando a subida média na União Europeia foi inferior, indicou o responsável pela empresa encarregue da gestão da rede pública.

Uma expansão que está a acelerar face aos últimos anos, em que a infraestrutura portuguesa se reforçou em 25% contra um crescimento três vezes inferior na média da União Europeia, acrescentou.  

Mas como estamos afinal no terreno? Luís Barroso revela os dados mais atualizados: “a rede pública nacional conta atualmente com cerca de 5500 pontos e, com a ajuda do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), deverá atingir os 15 mil pontos em todo o país até 2025”.

Em matéria de investimento na infraestrutura, a Mobi.e está ainda a concluir a instalação de 10 hubs, sendo que 12 são estações de carregamento rápido e ultrarrápido, indicou.

São indicadores que levam o presidente da Mobi.e a considerar que “Portugal está em boa posição para enfrentar os desafios que temos no futuro”.

Melhor transparência e informação ao consumidor

Essa é igualmente a perspetiva de Pedro Vinagre, administrador da EDP Comercial, que considera “estarmos a viver o período mais desafiante, um verdadeiro ‘boom’ da mobilidade elétrica”. Senão vejamos. Em 2021 tinhamos um total de 16 milhões de veículos elétricos no mundo, que consumiam toda a eletricidade gerada na Irlanda. E, só nesse ano, as vendas duplicaram para mais de 6 milhões de carros. Boas notícias são também, para Pedro Vinagre, as estimativas que apontam para que “em dez anos passemos de um nível de vendas de 130 mil veículos por ano para 120 mil por semana”.

Esta expansão impressionante vai refletir-se num aumento da procura da ordem dos 20% ao ano até 2030, diz o administrador da EDP, que quer, assumidamente, “liderar a transição energética”.

Esta explosão do mercado implica, no entanto, alguns desafios para os operadores. “Temos de colocar o cliente no centro desta transformação”, no sentido de melhorar a informação sobre a mobilidade elétrica, reforçar a rede de carregamento e trabalhar em parcerias com empresas para acelerar e facilitar este mercado, defende o administrador da EDP. 

Neste domínio, a elétrica nacional anunciou recentemente uma parceria com a Leaseplan, que “vai ter um papel central” , pois no momento em que alguém escolhe comprar um carro é a este tipo de entidade que recorre, disse. A EDP tem igualmente prosseguido a sua parceria com a Brisa, contando já com a instalação de 48 carregadores rápidos e ultrarrápidos nas autoestradas da empresa.

Como a EDP opera também fora de Portugal, em especial em Espanha e no Brasil, acaba de celebrar outra relevante colaboração com a cadeia espanhola de supermercados Ahorramás para a instalação de 450 pontos de carregamento nos seus parques de estacionamento. Com o conjunto destas parcerias, Pedro Vinagre estimou passar dos atuais 2100 pontos para quase 3 mil até ao fim do ano.

Fruto de uma facilitação do acesso ao carregamento, as vendas de carros elétricos têm continuado a subir continuamente em contraciclo com a tendência geral do setor automóvel. E isso vai ter um impacto relevante na procura de energia. Se hoje os veículos elétricos são apenas responsáveis por 0,5% da procura de energia na UE, nos próximos anos subirá rapidamente para 2% a 3%, prevendo-se que em 2030 já represente qualquer coisa como 10% da demanda energética no espaço comunitário.

Tecnologia do futuro para resolver problemas de hoje 

Essa é uma das razões pelas quais a tecnologia vai ter de assumir um papel importante, considera o gestor. O mercado aguarda inovações tecnológicas que permitam tornar toda a cadeia da mobilidade elétrica mais sustentável. “É preciso que os veículos elétricos possam ser integrados na própria rede” defendeu Pedro Vinagre. Em causa está fazer com que as baterias dos veículos possam servir de backup em casa ou no escritório de uma forma mais eficiente e inteligente. 

Peter Badik, administrador da Charge Up Europe e CEO da Greenway concorda que “as inovações tecnológicas para apoiar  a facilitação e a sustentabilidade da mobilidade elétrica são absolutamente críticas”. Mas não tem dúvidas absolutamente nenhumas de que “estamos a viver um boom e a transição energética está realmente a acontecer”.

Agora estamos a chegar a uma fase em que precisamos da política  e da regulação, até porque o nível de penetração dos veículos elétricos nos diferentes mercados ainda é bastante díspar, o que não é muito positivo para o mercado, considera aquele responsável.

Na mesma linha, Lennart Verheijen, diretor de inovação da GreenFlux (empresa especializada em soluções de carregamento) considera que “estamos realmente a viver uma transição estrutural”. Isto, independentemente do efeito que a pandemia e que a guerra na Ucrânia possa estar a ter.

Lennart Verheijen tem uma posição bastante categórica sobre a inevitabilidade do caminho elétrico: “O facto da Comissão ter fixado 2035 como a data limite para o fabrico de veículos a combustão na UE ajuda, claro, mas acho que quase não era necessário, porque acho que ninguém no seu perfeito juízo vai querer comprar um carro a combustão em 2030”. E isto porque o modo elétrico é uma melhor experiência e tem menores custos, diz.

Nesse aspeto também Peter Badik é peremptório: “Esta tecnologia veio para ficar, não vejo sequer outra opção de futuro que não passe pela mobilidade elétrica”.

Desafiados a antecipar as mudanças neste mercado no espaço de uma década,  todos os convidados do Portugal Mobi Summit colocam grandes expetativas nas surpresas que as inovações tecnológicas ainda podem trazer. E as possibilidades em cima da mesa passam tanto pela autonomia dos veículos como pelas autoestradas elétricas para o chamado carregamento wireless (sem fios).

“A inovação é um driver gigante da transição energética, na medida em que só um quarto do caminho até 2030 será feito com a tecnologia existente, o resto do caminho será feito com tecnologia que ainda não existe”, considera Pedro Vinagre. O administrador da EDP antevê um futuro em que os veículos serão autónomos, terão mais autonomia de bateria e ao invés de estarem parados 90% do tempo, poderão estar sempre circular em sistema de mobilidade partilhada. Mas para isso tudo terá de evoluir também a um ritmo mais rápido, com os carregadores a serem mais inteligentes, a carregarem dez vezes mais veículos do que agora e os carros a estarem ligados à rede.

Essa interconectividade é justamente apontada por Peter Badik como o factor crítico. “Não só precisamos de mais infraestruturas, como de mais interconectividade, a indústria tem de estar conectada, o carro, o carregador e uma grande facilidade e transparência no processo de cobrança e pagamento da energia carregada para que o sistema seja fiável para os consumidores”, sustentou.

Em jeito de conclusão desta discussão Lennart Verheijen não podia ser mais otimista: “ em dez anos vamos acabar por esquecer que alguma vez usámos carros a combustão.

Carla Aguiar

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