Trotinetes elétricas causaram 445 acidentes em três anos

2022
17-08-2022

Há uma média de 12 acidentes por mês com trotinetes em Portugal, de acordo com dados da PSP relativos ao período entre 2019 e 2021

A negligência na condução destes veículos explica a maior parte dos acidentes, segundo a PSP, que alerta para o facto de a gravidade destes sinistros ter vindo a aumentar nos últimos dois anos, com mais feridos leves e graves a assinalar.

A condução negligente das trotinetas elétricas em Portugal tem causado uma média superior a 12 acidentes por mês desde 2019, com um total registado pela PSP em todo o país de 445 sinistros nos últimos três anos (de 2019 a 2021), segundo dados avançados pela Direção Nacional da Polícia de Segurança Pública ao Portugal Mobi Summit. “Uma larga maioria dos acidentes desta tipologia são causados por algum tipo de negligência, em que o excesso de velocidade para as condições objetivas de circulação (ainda que sem superar o limite de 25 km/h) contribui para causar e ou agravar o acidente”, observa a PSP ao comentar o fenómeno.

Apesar de ainda não ter os dados de 2022 consolidados a estatística destes últimos três anos já permite à PSP alertar para uma escalada da gravidade destes acidentes em Portugal, mesmo que não existam vítimas mortais a lamentar. “Neste período temporal verificámos uma subida do número de acidentes, bem como o aumento da gravidade dos mesmos, atendendo à evolução do número de feridos leves e graves”.

O pior ano em todos os indicadores foi 2021 com 289 acidentes causados por trotinetas, 244 feridos leves e sete feridos graves. Em 2020 foram registados 97 sinistros, 69 feridos ligeiros e dois feridos graves. Finalmente, em 2019 o total de acidentes foi de 169, tendo causado 119 feridos leves e três feridos graves. 

"Ressalve-se que em 2020 devido à pandemia da COVID-19 e consequentes restrições e períodos de confinamento, o registo de acidentes é inferior por haver menor tráfego rodoviário”. 

Na distribuição geográfica dos sinistros com trotinetas elétricas no biénio 2020--2021 Lisboa lidera com 130 acidentes, seguida do Porto com 54, de Braga com 41, Setúbal com 37, Faro com 33 e Coimbra com 29, de acordo com os dados da PSP.

As trotinetas ou e-scooters são veículos equiparados legalmente a velocípedes, ou seja, na mesma categoria das bicicletas ou dos triciclos e não podem, por regra, ultrapassar os 25 quilómetros/hora em patamar, frisou a polícia, invocando o artigo 112 do Código da Estrada. “Os veículos equiparados que não respeitem algum dos pressupostos legalmente previstos neste artigo ficam sujeitos às condições de circulação previstas em regulamento (a publicar pelo Instituto da Mobilidade e Transportes)”. 

PSP alerta para uma escalada da gravidade destes acidentes em Portugal, mesmo que não existam vítimas mortais a lamentar. 

O que se tem verificado em Lisboa e nas outras cidades é a condução negligente de condutores de trotinetas que por vezes se misturam com os automobilistas em vias com intenso tráfego rodoviário ou utilizam passeios pedonais a uma velocidade excessiva. Ana Rosa, uma residente numa rua transversal à Avenida de Roma, em Lisboa, recorda como acabou vítima de um destes comportamentos: “Em janeiro de 2020, em plena pandemia, fui colhida por uma trotineta no passeio da minha rua, quando saía de um estabelecimento comercial”. O impacto de ter sido atropelada foi grande porque “a trotineta ia a uma velocidade louca”. “Sofri lesões no joelho direito e no ombro esquerdo. Tive de fazer exames médicos e tratamentos”. O condutor da trotineta nem olhou para trás, conta. “Tem de haver mais fiscalização policial destes condutores de trotinetas. Na minha zona, é frequente vê-los a conduzir nos passeios, sem qualquer respeito pelos peões e sei que em outros bairros de Lisboa também é assim”.

Mecânicos estão a piratear trotinetas
Uma investigação da BBC descobriu que no Reino Unido existem trotinetas que estão a ser “pirateadas” no software por mecânicos especializados que conseguem que estes veículos atinjam pelo menos mais 10 quilómetros por hora do que o permitido, ou seja, 35 km/hora. Numa oficina destes veículos em Londres foi dito por um dos mecânicos à reportagem da BBC que conseguia alterar a velocidade máxima da trotineta. “Eu uso-a para depois mudar para outro transporte em Londres. Não corro o risco de ser preso por causa disto, pois não?”, perguntou o repórter na pele de um condutor de trotineta. A resposta do mecânico foi rápida e assertiva: “Não, nada disso”. Outro estabelecimento em Brighton ofereceu-se também para piratear o veículo mas deixaram um aviso: a alteração poderia “causar tensão em algumas peças da e-scooter porque obviamente não foram projetadas para ir a uma velocidade maior”.

Segundo a BBC, a maioria dos estabelecimentos visitados onde os mecânicos se ofereceram para fazer a alteração, avisaram dos riscos para o condutor e para o veículo desse ato de “pirataria” do software. Com exceção a um que assegurou que “era preciso ir muito mais rápido do que isso para que a trotineta fique insegura”. Especialistas em segurança adiantaram à reportagem da BBC que é ilegal remover os limites de velocidade das trotinetas e apelaram aos fabricantes para intervirem na matéria.


Em Portugal, a PSP ainda não conhece casos similares mas adiantou que, a existirem, constituem pelo menos um ilícito contraordenacional previsto no artigo 114 do Código da Estrada e punido com multa. Segundo esse artigo, “é proibido o trânsito de veículos que não disponham dos sistemas, componentes ou acessórios com que foram aprovados ou que utilizem sistemas, componentes ou acessórios não aprovados”. Quem infringir, e conduzir uma trotineta “hackeada” por exemplo, é punido com coimas que vão de 250 a 1250 euros e será também apreendido o veículo até que venha a ser aprovado em inspeção extraordinária.

Rute Coelho

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