
Maritime Sisters inovam setor que transporta 90% do que consumimos

As irmãs neerlandesas Marjolein e Sylvia Boer trabalham na inovação do setor marítimo e portuário. A reciclagem quase integral dos navios em fim de vida e as fontes de energia verde para os navios são projetos em que estão envolvidas as empresárias que abriram o último dia da Cimeira de Cascais, do Mobi Summit.
Os navios foram os pioneiros da globalização, antes mesmo de existir o conceito, e continuam a ser os seus maiores agentes. Cerca de 90% dos bens que consumimos são transportados por navios, que consomem 225 de toneladas de fuel por dia. É uma indústria essencial para alimentar o nosso modo de vida, mas com uma forte pegada carbónica.
Questionar as convenções do setor marítimo e portuário e repensar a indústria rumo à sustentabilidade é o propósito das Maritime Sisteres, duas mulheres a dar cartas num mundo de homens. As irmãs neerlandesas, Marjolein e Sylvia Boer, baseadas em Roterdão, criaram uma empresa que funciona como uma agência de inovação que faz a ponte entre a indústria e o governo e entre as startups e as companhias de navegação. E fizeram a intervenção de abertura do último dia da Cimeira de Cascais do Mobi Summit, esta manhã, na Nova SBE em Carcavelos, centrada numa visão fora da caixa do setor.
Marjolein e Sylvia Boer nasceram numa família com longa tradição marítima e é com paixão que falam do setor que querem ajudar a mudar. "Queremos acelerar a transição energética, juntar os vários operadores, conectar pequenas e grandes empresas e trazer mais cor e diversidade para este setor, porque acreditamos que com diversidade as empresas são mais eficazes e tomam melhores decisões", disse Sylvia Boers.
"Percebemos que as mudanças rumo à transição energética do setor não estão a acontecer tão rapidamente como deveriam e estamos empenhadas em que os Países Baixos mantenham uma posição de relevo e vanguarda, mas para isso é preciso inovar e reunir os vários agentes que o podem fazer, sob pena de sermos ultrapassados". Este é o posicionamento das empresárias, que estão particularmente convencidas de que uma das peças centrais para a reabilitação desta indústria está na economia circular e na reciclagem dos navios que chegam ao fim de vida. Se pudermos manter 99% da reconversão dos materiais em solo neerlandês ou, pelo menos, dentro da UE, isso também é uma maneira de reduzir a nossa dependência de matérias-primas.
Na verdade, "os armadores de um velho navio podem estar sentados em cima de ouro", diz Marjolein Boer. É que o desmantelamento pode e deve ser rentável. Na sua apresentação, as Maritime Sisters deram como exemplo o desmantelamento do maior navio do mundo, com 20 anos, em que 60 a 80% dos materiais puderam ser reaproveitados. Essa é uma via para uma maior sustentabilidade.
Outro projeto muito auspicioso que resulta desta união de energia criativa neerlandesa apontado esta manhã é o "solar duck", uma plataforma flutuante off shore que junta a tecnologia eólica e solar para produzir energia verde.
Mas há outras ideias com elevado potencial. É o caso do H2 Barge 1, que atua na conversão do plástico que está à deriva nos oceanos e o converte em hidrogénio. Ou ainda dos contentores movidos a hidrofuel que andam três vezes mais rápido, referiram.
Num mundo onde operam 61 mil navios servidos por 6 mil portos é urgente repensar o modo de tornar toda esta operação global mais sustentável. Ser mais verde tem um preço. Mas agora é o tempo de o fazer . "Não podemos voltar as costas porque não há volta atrás", alertam as Maritime Sisters.
Carla Aguiar