"É mais barato viajar para o centro de ônibus do que no carro"

Conferências
22-10-2025

A rede de metrobus de Curitiba é um exemplo para muitas cidades do mundo, mas replicar este sucesso na Europa implica tirar espaço aos carros. Essa medida não será muito popular, mas pode ser compensada por outras infraestruturas.

Utilizar o transporte público para viajar para os centros da cidade pode ser mais barato que utilizar o carro. E essa poupança é um fator de motivação para abandonar o transporte privado. Em Curitiba, no Brasil, o tarifário é um dos motores de sucesso do BRT – Bus Rapid Transit, um sistema de transporte rodoviário em corredor próprio lançado em 1972 pelo arquitecto Jaime Lerner. Para viajar na rede do BRT só é preciso comprar um bilhete. "É mais barato viajar para o centro de ônibus do que no carro", vincou esta quarta-feira, 22 de outubro, Ariadne dos Santos, urbanista da Jaime Lerner Associados, na conferência Portugal Mobi Summit, que está a decorrer em Algés. Como lembrou, não há preocupações com estacionamento nem com arrumadores. No limite, o passageiro em Curitiba pode viajar em todas as linhas ao longo do dia com o mesmo bilhete.

 

A rede do BRT integra várias linhas e autocarros de cores e velocidades diferentes que transportam os passageiros de zonas distantes para uma linha que faz uma nova distribuição para vários pontos. As estações são frequentes, a cada 400 metros no máximo, com uma frequência atual em torno dos dois minutos, principalmente nas horas de ponta. O bilhete é único e pré-pago (compra-se nas estações), o que evita perdas de tempo no pagamento e validação dos títulos de transporte. O aposta num nivelamento das paragens com o autocarro eliminou as barreiras físicas das subidas e descidas, o que agilizou todo o processo de embarque/desembarque, frisou Ariadne dos Santos.

 

Atualmente, o BRT conta com mais de 1200 autocarros, 250 linhas e uma média de 350 mil passageiros por dia. Segundo Ariadne dos Santos, este sistema de transporte rodoviário é um dos pontos de uma visão de mobilidade e de cidade mais lata. Como salientou, o arquiteto Jaime Lerner defendia três pilares; mobilidade, sustentabilidade e identidade. Por isso, o desenvolvimento da rede BRT foi também acompanhado da construção de ciclovias, caminhos pedestres, parques urbanos, habitação, serviços de comércio, escritórios. Toda uma estratégia que "ajuda a equilibrar a equação tarifária", sublinhou.

 

Dado o sucesso do BRT, muitas cidades no mundo têm procurado replicar o modelo, mas nem sempre são bem sucedidas. Para Ariadne dos Santos, a chave é que "o BRT foi parte de uma solução urbana", não apenas uma resposta ao problema do transporte público urbano. A rede de Curitiba nasceu quase de uma página vazia, onde foram criadas novas centralidades e espaços para o crescimento futuro da região. Na Europa, a malha urbana está muito consolidada. Como afirmou, "vocês já têm algumas das características chave desse ambiente urbano, que é diversificado e vibrante. Não precisam trazer as pessoas para o sistema de transporte, já estão lá". O caminho é "desenhar a infraestrutura física para a escala do lugar e isso vai envolver, o que não é sempre muito popular, reduzir o espaço do carro e dedicar esse espaço para o transporte público".

 

Na sua opinião, uma das lições que se pode aprender com om exemplo de Curitiba é "que temos de experimentar, sendo o mais criativo possível". Em suma, disse Ariadne dos Santos, citando Jaime Lerner, "mais vale a graça da imperfeição do que a perfeição sem graça".

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