
Autónomos ao virar da esquina, só falta regulamentação

Por estes dias, a Indra não pára. Está envolvida num projeto europeu de desenvolvimento de condução autónoma e a realizar testes em autoestrada já nos EUA. Depois dos primeiros testes realizados em Madrid, Paris e Lisboa em 2019, e com os resultados obtidos nos últimos 5 anos, já amanhã conseguiria colocar na estrada, veículos 100% autónomos, assim já existisse regulamentação que o permitisse.
A Indra especializou em desenvolvimento de soluções tecnológicas para diversos sectores, desde a defesa, às Tiic´s e transportes e hoje está a desenvolver vários pilotos em auto-estradas norte americanas na área da condução autónoma em via dedicada, tal como tem feito nos últimos anos no espaço europeu, através de projetos apoiados pela UE.
Esta empresa já global que inclui consultoria no domínio da transformação digital e oferta de soluções, de alto valor agregado e com foco em inovação, com os resultados obtidos nos últimos 5 anos, considera que seria possível colocar na estrada já amanhã veículos autónomos em segurança, mesmo que fosse, apenas um transporte publico em via dedicada, mas tal depende da regulamentação deste tipo de atividade, que tem que ser criada por cada país.
A responsável pela área da Mobilidade e Transportes da Indra em Portugal, adianta que este ano de 2025, é dedicado a vários ensaios, com testes de condução autónoma avançada a decorrer em autoestradas nos EUA e também alguns previstos realizar em Espanha, mas sem novas experiências previstas para território português.
Francisca Ramalhosa, Senior Manager de Mobility da Indra em Portugal recorda que em 2019, a empresa liderou o projeto europeu AUTOCITS, que consistiu na realização de testes de condução autónoma em cidades como, Lisboa, Madrid e Paris.
Acrescenta que “ iniciámos aqui um caminho no que diz respeito à condução autónoma, aos veículos autónomos, com o Projeto Autocits que permitiu testar a condução autónoma e, principalmente, estudar que regulamentação que seria necessária para a desenvolver nestes países, Portugal, Espanha e França e esse foi um primeiro passo, um primeiro projeto para o longo caminho de investigação e desenvolvimento que temos feito na condução autónoma.”
O projeto europeu AUTOCITS foi lançado em 2016, com um orçamento de 2,6 milhões de euros e financiamento do programa europeu CEF (Conecting Europe Facility), focado em testar a tecnologia de condução autónoma em áreas urbanas densas, com o objetivo de testar, não só a viabilidade, como a segurança, em cenários urbanos complexos.
Em Portugal não foi mais do que colocar em prática, a experiência que tinha iniciado em 2017 em Espanha e dois anos depois apresentou o resultado dos testes, num workshop realizado no Terminal de Cruzeiros de Lisboa, onde foram demonstrados os avanços do projeto.
Em Lisboa, as experiências realizaram-se nas Avenidas Marginal, Avenida Brasília e A-36, mas apesar de liderar a iniciativa, a Indra contou com a participação da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR), da Universidade de Coimbra (UC) e do Instituto Pedro Nunes, tendo na altura o governo prometido legislação para permitir a circulação de veículos autónomos, em modo de teste, em Portugal.
Já em Espanha, os primeiros pilotos foram considerados pioneiros na Europa no domínio dos testes fechados e abertos ao tráfego em diferentes tipos de vias, como, a pista Bus-VAO que conecta com a M-30, em Madri e mais tarde a experiencia foi repetida na autoestrada A-4 de Paris.
Na prática, o projeto AUTOCITS pretendia facilitar a circulação dos veículos autónomos nos complexos urbanos através do desenvolvimento dos serviços inteligentes de transporte baseados em sistemas cooperativos (C-ITS), que permitissem a comunicação e o intercâmbio seguro de dados entre veículos, utilizadores e infraestrutura, utilizando o padrão de comunicações europeu ITS-G5.
O projeto abordou os vínculos entre essa conectividade e a automatização, focando-se especialmente na segurança viária e nas alterações necessárias na infraestrutura e nos centros de controle de tráfico, no sentido físico e digital.
Foi uma forma de conciliar a função de gestão do tráfego que é realizada a partir destes centros, com a presença dos veículos sem motorista, levando em conta também a informação fornecida pelas autoridades de tráfego, através dos serviços inteligentes C-ITS tem uma importância crescente nos níveis mais altos de automatização para desencadear ações tanto em veículos convencionais como automatizados.
O objetivo final era avançar no quadro regulatório, com normas de tráfego para melhorar a interoperabilidade dos carros autónomos, assegurar sua correta circulação em todos os tipos de estradas dos diversos países europeus e sua convivência segura com os demais veículos, mas esse é um desígnio que depende do regulador de cada estado-membro e do poder supranacional comunitário.
Atualmente não existe um padrão a nível europeu e as normas de cada país têm diferentes graus de maturidade, com Espanha e França em uma posição avançada.
Além de contar com a participação de autoridades de tráfego, operadores e universidades, o AUTOCITS esteve ligado a outras iniciativas existentes na escala europeia neste âmbito, por exemplo, o projeto C-Roads e a plataforma EU EIP Platform.
No caso de Madrid, permitiu testar o envio direto de informação do centro de controle aos veículos para notificar pontos potencialmente perigosos, como obras viárias, presença de um veículo de emergência, lento ou estacionado, assim como alertas por condições meteorológicas.
Em Lisboa foi transmitida informação similar com advertências e localizações perigosas, porém utilizando a comunicação V2X entre o veículo e qualquer objeto ou dispositivo conectado, neste caso um segundo veículo “instrumentalizado”.
Em Paris, além deste tipo de avisos de situações perigosas, foram notificados os engarrafamentos e oferecida ajuda para geri-los, com informação sobre a velocidade, ou vias recomendadas, alternativas, etc. utilizando a comunicação I2V do centro de controle aos veículos autónomos.
Nos três pilotos foram projetados e testados também diferentes serviços que aproveitam a informação que os próprios veículos conectados oferecem aos centros de controle e os serviços e sistemas testados, de forma cruzada, entre as 3 cidades para comprovar que são interoperáveis e funcionam corretamente.
Depois dos testes deste designado corredor Atlântico, que incluiu Lisboa, Madrid e Paris, bem como as respetivas conexões a transportes marítimos e ferroviários e com a bateria de novos testes já de outra dimensão que a empresa tem realizado, de lá para cá, os resultados que tem obtido, permitem-lhe concluir que dentro de 2 a 3 anos, os veículos autónomos serão uma realidade nas estradas.
Francisca Ramalhosa adianta que em 2019 em Lisboa, os testes foram realizados em apenas 80 metros e hoje já fazem percursos maiores e em mais vias, ou faixas paralelas e em ambiente mais urbano, não tão dedicado, mas ainda não há veículos autónomos a andar nas estradas no dia-a-dia, sem controlo. Os que existem dependem sempre do ambiente de teste.
A lider da área da mobilidade da INDRA dá conta ainda da participação em vários outros projetos, com financiamento europeu e sublinha que um dos maiores é “ o C-Street, que é conhecido no setor e no qual trabalhámos com vários parceiros, tanto de universidades, como entidades reguladoras, ou do próprio setor tecnológico e temos vindo a desenvolver vários projetos que obviamente, tornam a condução autónoma hoje numa realidade muito diferente do que era em 2019. Por isso, contamos que, dentro de poucos anos, será uma realidade nas nossas estradas.”
Na Europa, a regulamentação está mais dispersa e lenta a produzir e pelo nível de agilização de processos regulatórios, a Infra acredita que o mais provável é serem os EUA a concretizar primeiro tal desígnio.
Esta especialista garante que têm desenvolvido tecnologia de conexão entre o veículo autónomo e os centros de comando, para que seja produzido máximo de informação, e que essa informação seja fiável, para que a condução do veículo seja o mais segura possível.
Adianta que “temos desenvolvido tecnologia para que os nossos equipamentos possam transmitir essa informação para o veículo, informação que seja que há um buraco na estrada, há um veículo parado mais à frente, e que o veículo esteja com o máximo de informação possível e que, ao mesmo tempo, os centros de controle também possuem informação e dados, capazes de planear viagens, planear percursos, e que exista assim uma troca de informação, entre o veículo e o centro de controle e o centro de controle e o veículo, para que seja possível essa condução com o máximo de segurança possível."
Acredita que esse é o caminho que está a ser feito e que a Indra tem investido e participado, mas alerta que " os veículos autónomos ainda não existem no dia-a-dia como uma realidade, são sempre feitos ainda em ambiente controlado, em testes e esses testes é que têm vindo a aumentar e a melhorar a qualidade.”
Seja qual for a geografia que reclamar ser a primeira a concretizar a condução autónoma, os dados já recolhidos nos últimos testes realizados em 5 anos permitem à Indra acreditar num futuro próspero, mais ainda, quando através de sua unidade Minsait, responde aos desafios apresentados pela transformação digital.
Sem esconder o optimismo, Francisca Ramalhosa conclui que com os resultados obtidos nos testes deste tipo de condução, “ hoje já é possível afirmar, se fosse necessário amanhã, pôr na estrada um veículo autónomo, seria possível, desde que fosse em faixas, ou vias, onde exista um centro de controlo e equipamentos que controlem a estrada e que possam comunicar com o veículo, seja em autoestrada, seja nas nossas scuts, em que já temos imensos equipamentos montados.
Anuncia ainda que a Indra tem vindo a desenvolver nos Estados Unidos e a implementar muita tecnologia nas autostradas, onde tem vários projetos em curso, tal como na Europa, em países como Espanha, mas acrescenta que “é necessário ter um conjunto de agentes com disponibilidade e com vontade de investir, porque são projetos muito caros, o que dificulta por vezes o seu desenvolvimento, em alguns contextos.
Questionada sobre quando é que a condução autónoma será uma realidade, responde que “ temos a certeza que a condução autónoma vai ser uma realidade a muito breve prazo e todos os responsáveis, quer políticos, quer tecnológicos, quer construtores automóveis, têm vindo a dizer que em dois, três anos haverá veículos autónomos a circular na estrada. Seja em transporte coletivo, seja transporte individual. Obviamente que no início serão em circuitos bastante controlados e com bastante equipamento e centros de controlo.
Para esta responsável da Indra “ os Estados Unidos são sempre um ambiente muito fértil para a experimentação e para o arranque deste tipo de operação talvez sejam os primeiros até porque é onde a regulamentação também é mais flexível. Portanto, acredito que provavelmente nos Estados Unidos vão avançar primeiro que a Europa.”
Na ultima década, a empresa instalou-se em 46 geografias e tem projetos a decorrer em mais de 140 países com um total de 37 mil empregados e um volume de faturação anual que em 2015 rondava já os 3 milhões de euros.