Poesia aparece nas ciclovias de Lisboa

Notícias (geral)
23-09-2025

Lisboa acordou numa bela manhã de setembro, em plena semana europeia da mobilidade, com mensagens poéticas em algumas ciclovias, deixadas em locais estratégicos, mas sem “assinatura”. Não se sabe quem se deu ao trabalho.

Faltam as castanhas, mas já cheira a outono e nem se sabe se foi a mudança de estação o motivo para a poesia aparecer nas ciclovias. A verdade é que por estes dias, quem anda de bicicleta pela cidade de Lisboa pode ser surpreendido com pequenos poemas ou versos escritos em pedaços de papel colados nos mais variados sítios, desde semáforos a estações, ou outro qualquer tipo de equipamento de suporte a uma ciclovia. 

 

Ainda ninguém atravessou a ponte inspirando-se naquelas palavras de Sophia de Mello Breyner Andresen, sobre Lisboa: “Quando atravesso – vinda do sul – o rio / E a cidade a que chego abre-se como se do seu nome nascesse / Abre-se e ergue-se em sua extensão noturna / Em seu longo luzir de azul e rio / Em seu corpo amontoado de colinas  - Vejo-a melhor…” 

 

Também quem desce e sobe colinas, parte e regressa, pode descobrir Alexandre O’Neill “E de novo, Lisboa, te remancho, / numa deriva de quem tudo olha / de viés: esvaído, o boi no gancho, ou o outro vermelho que te molha. / Sangue na serradura ou na calçada, / que mais faz se é de homem ou de boi?”

 

Em esquinas ou semáforos, também não seria de admirar ver os versos de  Manuel Alegre, “Em cada esquina te vais, / Em cada esquina te vejo, / Esta é a cidade que tem, / Teu nome escrito no cais, / A cidade onde desenho, / Teu rosto com sol e Tejo, Caravelas te levaram…”

 

No cruzamento de jardins, mesmo de duas rodas, é sempre possível lembrar os Jacarandás de Eugénio de Andrade “São eles que anunciam o verão. / Não sei doutra glória, doutro  / paraíso: à sua entrada os jacarandás / estão em flor, um de cada lado. / E um sorriso, tranquila morada, / à minha espera. / O espaço a toda a roda / multiplica os seus espelhos, abre / varandas para o mar. / É como nos sonhos mais pueris: / posso voar quase rente / às nuvens altas – irmão dos pássaros –, / perder-me no ar.”

 

Por enquanto, ninguém reclamou a autoria. 

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