
"Portugal é líder na Europa na exportação de bicicletas. Somos bons a fazer bicicletas, mas somos péssimos a utilizá-las"
As limitações no desenho urbano e na intermodalidade e a própria cultura familiar são dois dos desafios apontados para que os portugueses não optem pelo uso da bicicleta como meio de transporte.
Portugal ocupa uma posição de liderança a nível europeu na produção de bicicletas e de componentes, mas a utilização deste veículo de transporte continua a não ser popular entre os portugueses. As limitações no desenho urbano e na intermodalidade e a própria cultura familiar foram dois dos motivos apontados pelos oradores do painel "Como aproveitar todo o potencial da micromobilidade?", que enceroru a manhã do segundo dia da Mobi Summit.
"Já antes da pandemia, Portugal era líder na produção e exportação de bicicletas na Europa. Temos das melhores empresas do mundo no setor. Somos bons a fazer bicicletas, mas somos péssimos a utilizá-las", apontou Vital Rodrigues de Almeida. O presidente da Abimota relembrou têm sido desenvolvidos projetos pioneiros no país como é exemplo a produção de quadros de carbono industrial.
Mas, afinal, por que motivo não estão os portugueses a aproveitar esta vantagem e optar por se deslocar de bicicleta? Para a presidente da Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta (Mubi) um dos principais constrangimentos passa pelo desenho urbano das cidades. "Não há falta de pessoas que se queiram deslocar de bicicleta. O problema é que o desenho urbano está feito para que o carro seja o meio de transporte mais vantajoso. A intermodalidade com barcos e comboios não é favorável e as pessoas acabam por não as utilizar", defendeu.
Vera Diogo sustentou ainda necessidade de pensar na mobilidade como "uma ponte que traz benefícios".
Outro dos desafios passa pela "atitude cívica e cultural", acrescentou o presidente da câmara municipal de Aveiro. "Vivo numa aldeia com três escolas no mesmo sítio. Neste sítio vivem três mil pessoas e cada escola tem um raio de cobertura de um quilómetro. Há 50 anos, quando andei numa destas escolas, 80% dos estudantes ia a pé ou de bicicleta. Hoje ninguém vai a pé para a escola, os papás e as mamãs levam os filhotes de carro à escola. E não estamos a falar de crianças de sete anos, mas sim de jovens com 15 ou 17 anos", disse.
José Ribau Esteves defendeu ser necessário "mudar a atitude dos pais para com os filhos". "Precisamos de fazer melhor na educação das famílias. Tenho amigos que levam os filhos de carro para a universidade, em distãncias curtas", partilhou.
Neste ponto, Vera Diogo relembrou que o "protecionismo" dos pais, muitas vezes, é justificado pela ausência de condições de segurança nas cidades. "Não há condições para as crianças irem sozinhas nem para os pais tenham esse desprendimento e se sintam seguros", contrapôs.
A presidente da Mubi sustentou: "É preciso criar mais condições. Antigamente havia campanhas para a reciclagem feitas nas escolas e as crianças levavam estes ensinamentos para casa, mas quando se faziam essas campanhas já existiam ecopontos. Não adianta fazer campanhas para ensinar as crianças serem corajosas [para andarem sozinhas a pé ou de bicicleta] se não houver condições [de segurança]", apontou.