Carros autónomos partilhados serão realidade em 2020

2018
22-01-2018

Imagine-se sentado à secretária numa sexta-feira à noite, ao fim de uma longa e penosa semana de trabalho, com um único pensamento em mente: comer alguma coisa e chegar a casa o mais rápido possível. Pega no smartphone e vê as opções que a sua aplicação de mobilidade sugere. Autocarrro ou comboio? Demasiadas paragens. Um veículo partilhado? Não lhe apetece fazer conversa de circunstância com estranhos. Opta então por um táxi autónomo, um dia não são dias. Entretanto, aproveita para fazer uma encomenda online na pizaria habitual. Quando o carro elétrico, sem condutor, chega para o apanhar já a fatia de piza o aguarda na mesa do carro (o táxi recolheu-a minutos antes no local indicado) e está tudo a postos para jantar enquanto assiste à sua série preferida, previamente selecionada no telemóvel – 20 minutos depois está em casa com tudo pago através do telefone, pronto para sonhar com o fim de semana. Uma viagem assim, com toda a rede de operadores envolvidos, vai ser possível mais depressa do que possamos pensar. Segundo o estudo da Deloitte The future of mobility: what's next?, o ritmo a que as mudanças na área da mobilidade estão a acontecer é avassalador, com evoluções significativas de ano para ano. De acordo com as projeções da consultora, já em 2020 assistiremos à introdução de veículos autónomos partilhados , sendo que em 2025 mais de 10% dos quilómetros percorridos serão em veículos da economia partilhada, seja na modalidade de carsharing ou carpooling. "Por isso, a Deloitte encara o futuro da mobilidade como uma prioridade estratégica para os próximos anos", refere Miguel Eiras Antunes, Partner e Public Sector & Transportation, Infrastructures & Services Leader. Durante esta revolução na mobilidade urbana vão coexistir várias realidades relativamente à propriedade e ao controlo dos veículos. Primeiro, vai ter de ocorrer uma mudança na cultura pessoal, da propriedade individual para o mundo da partilha automóvel, que conviverá com o crescimento dos veículos autónomos e depois com a massificação desta tecnologia, que conduzirá a uma nova era de autonomia acessível. A tecnologia que já hoje permite a condução autónoma vencerá gradualmente as barreiras legais que enfrenta e a Deloitte estima que em 2030 a maioria dos veículos partilhados vão ser autónomos. Apenas dez anos mais tarde, em 2040, as projeções apontam para que a mobilidade partilhada represente mesmo 80% dos quilómetros percorridos. Miguel Eiras Antunes considera que "as mudanças em perspetiva na mobilidade vão ter diversificados impactos ao nível da gestão das cidades, setor automóvel, transportes e infraestruturas (que terão de ser inteligentes), energia, petróleos, media, estacionamento e seguros". Os seguros tenderão a segurar mais as entidades que gerem os veículos do que os carros, devido à previsível queda da sinistralidade. 20% das compras online são feitas em trânsito No Reino Unido, cerca de 20% das compras online já são feitas enquanto as pessoas estão em trânsito entre a casa e o trabalho, indica um estudo da Deloitte. Uma realidade que tenderá a intensificar-se à medida que a autonomia dos veículos ou a sua partilha vai libertar as pessoas da tarefa de condução, deixando-as livres para navegar na internet e fazer transações online ou outro tipo de interações. Esta perspetiva, já ao virar da esquina, abre oportunidades de negócio centradas no cliente, que se torna o elemento central, enquanto se transporta. Tudo graças à crescente digitalização da economia. Alguns dos principais eixos destes novos serviços são os conteúdos de media customizados a cada cliente, os serviços in-vehicle (possibilitados pela interconectividade dos veículos), os sistemas integrados de pagamento, o serviço de mobilidade ou a análise de grandes dados para apoiar a definição da oferta. Quanto à componente física, para além das adaptações nos automóveis, motociclos e bicicletas, está a nascer uma nova geração de veículos como os drones ou o táxi voador. A tecnologia tende a avançar a uma velocidade mais rápida do que a regulação, que vai ter de responder a novos desafios, como sejam os padrões de segurança dos veículos, a conectividade, a gestão e privacidade dos dados ou o risco e apuramento de responsabilidade. Neste domínio em particular, o setor segurador será dos que sofrerá maiores impactos, pois, a crer nas expectativas dos construtores, a condução autónoma vai reduzir a sinistralidade rodoviária de forma muito substancial, tornando--se quase infalível.

Carla Aguiar

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