Carlos Moedas: "A mobilidade digital é o desafio para corrigir a desigualdade social"

2019
25-10-2019

Para o comissário europeu para a Ciência e Inovação o maior desafio que enfrentamos são as cidades do futuro e a nossa soberania já não tem a ver com fronteiras.

Carlos Moedas, o ainda comissário europeu para a Investigação, Ciência e Inovação, foi o último orador da edição deste ano do Portugal Mobi Summit. E como não podia deixar de ser o tema foi a mobilidade, mas concretamente a mobilidade física vs. a mobilidade digital. "A mobilidade está no centro dos nossos desafios presentes e futuros", começou por dizer o político português.

Moedas lembrou que 30% das emissões presentes são dos transportes e contou que recentemente lhe foi dito que um cargueiro equivale a um milhão de carros em emissões.

"O maior desafio são as cidades do futuro e elas precisam que olhemos para as cidades do presente. Cidades que assentam em quatro números: são 2% da superfície da Terra, representam 50% da população, 75% do consumo de energia e 80% das emissões", prosseguiu o comissário para a Inovação, sublinhando que "temos de olhar como serão as cidades do futuro."

Carlos Moedas recordou que há dois anos esteve com o presidente da Microsoft, Satya Nadella, que lhe mostrou duas fotos da 5.ª Avenida de Nova Iorque. Uma de 1905, onde se viam carruagens, cavalos e um automóvel. Na segunda foto, de 1913, é tudo carros e talvez algures haverá um ou outro cavalo. "Hoje, quando vinha para cá, passei pela Avenida da Liberdade, e pensei 'o que será daqui a dez anos a Avenida da Liberdade?'. O futuro é sempre diferente daquilo que nós pensamos", declarou, confessando que "essa inovação daquelas fotos foi o que me apaixonou nestes cinco anos como comissário europeu. Essa inovação disruptiva."

Na opinião de Carlos Moedas, o futuro irá passar pela mobilidade digital, pois as cidades – e as pessoas - já excederam o seu limite. "Nós temos mais cabos de internet do que fronteiras físicas. (…) A nossa soberania já não tem a ver com a nossa geografia. Os dados vão transformar o mundo."

Dando como exemplo um trabalho de recolha de dados sobre mobilidade que foi feito na cidade de Nova Iorque, Carlos Moedas questionou porque razão o mesmo não é feito diariamente, em todo o mundo. "Porque é que os autocarros têm rotas fixas? Se eu tivesse dados, os autocarros podiam ir buscar as pessoas onde elas estavam", exemplificou.

Voltando à questão das mudanças disruptivas e da mobilidade, o comissário europeu lembrou que as primeiras acontecem quando existe uma mudança nos preços e que "com a passagem do motor a combustão para para o elétrico vai acontecer isso."

"A mobilidade física trouxe as pessoas para as cidades e criou a classe média. A mobilidade veio transformar e torná-la mais igualitária. Mas esse motor gripou. E a mobilidade digital vai mudar isso. A mobilidade digital é o desafio para corrigir a desigualdade social", assegurou.

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