Cidades em corrida contra o tempo para a ação climática

2023
22-09-2023

A Câmara de Lisboa defende a recuperação da ligação com Oeiras e Cascais através do adormecido projeto BRT. Esta foi uma das ideias fortes do painel da Cimeira de Lisboa que discutiu ainda a transição energética, a rede de carregamento e a urgência de reduzir emissões.

O primeiro painel da manhã da Cimeira de Lisboa era sobre Cidades em Transição e incluía a pergunta se estamos numa corrida contra o tempo. O resultado foi um debate vivo onde se levantaram questões diversificadas, sobre mobilidade sustentável, conflitos de gerações e mudanças tecnológicas. Houve até tempo para o anúncio de intenções políticas sobre projetos que podem transformar a região da Grande Lisboa e melhorar a vida dos cidadãos.

Primeiro, o diagnóstico. Todos os presentes neste painel concordaram com a ideia de existir um grave problema ambiental no planeta: o aumento dos gases com efeito de estufa, nomeadamente dióxido de carbono, ameaça a estabilidade do clima. É preciso agir, consideram os presentes. "Não há alternativa", disse Vera Pinto Pereira, administradora executiva da EDP, empresa que tem um compromisso de construir 4,5 GW (Gigawatts) de painéis solares, o equivalente "a 4500 campos de futebol".

A ideia de ação urgente foi também defendida por Filipe Anacoreta Correia, vice-presidente da Câmara Municipal de Lisboa. O autarca explicou que metade das emissões de gases com efeito de estufa em Lisboa são produzidos pelos transportes: "Se retirarmos a aviação, 40%". Anacoreta Correia mencionou algumas das ambições da autarquia, entre elas, a adaptação da frota da Carris a tecnologias limpas ou o avanço de um velho projecto de ligação entre Lisboa, Oeiras e Cascais, o BRT (Bus Rapid Transit) que terá uma via dedicada sem carris, em princípio na autoestrada A5.

A ideia de investir no BRT foi de imediato apoiada pelo vereador da Câmara de Cascais, Nuno Piteira Lopes, que tem o pelouro do espaço público e do urbanismo. Em relação às alterações climáticas, o autarca de Cascais considerou que ainda vamos a tempo para resolver o problema, mas existe um risco "de choque geracional", já que os jovens "vão obrigar" os políticos a decidir a favor da redução de carbono. Nuno Piteira Lopes também levantou o problema da possível falta de carregamento de carros elétricos.

O presidente da Brisa, António Pires de Lima, explicou que as emissões continuam a subir, sobretudo por causa da China e Índia, já que a Europa está a conseguir diminuir a produção destes gases. "Temos de nos preparar para décadas, talvez um século" de grandes impactos climáticos.

Questionado diretamente por Paulo Tavares, o moderador do debate, o presidente da Brisa revelou que o seu grupo não está interessado no projeto de TGV: "O modelo [previsto] é mais interessante para consórcios de construtores e grupos financeiros. A Brisa não é um banco nem uma construtora".

António Pires de Lima também manifestou o seu descontentamento com o ritmo a que está a crescer a rede de carregamento para veículos elétricos, sobretudo nas estradas secundárias do país. O tema foi também referido por Vera Pinto Pereira, que anunciou os planos da EDP para expandir esta rede até aos 7 mil pontos de carregamento nos próximos anos, defendendo a ideia de que "é preciso entender o veículo como uma bateria". Por isso, o desafio é melhorar sempre a eficiência energética, acrescentou a executiva.

Neste debate, a intervenção do presidente da Fidelidade, Rogério Campos Henriques, levantou ainda outras questões, nomeadamente a segurança destes meios de transporte da nova mobilidade suave, como as bicicletas e trotinetas. "Temos de evoluir", disse o responsável desta seguradora. "As pessoas querem segurança e os níveis de sinistralidade não melhoraram".


Luís Naves

Artigos relacionados

Concorrência baixou custo das viagens de autocarro regionais

Táxis elétricos podem carregar enquanto esperam na fila

Maritime Sisters inovam setor que transporta 90% do que consumimos