“A tecnologia não nos dispensará de fazer escolhas difíceis”

Conferências
23-10-2025

A mobilidade tem influência direta na habitação, na gentrificação das cidades e na qualidade de vida. A discussão sobre o BRT (Bus Rapid Transit) veio para ficar. Aumenta a população, cresce o número de carros e de veículos de todas as formas e feitios. A evolução tecnológica será alucinante. Robotáxis e robôs de entregas serão coisas banais em poucos anos. As cidades precisam de se adaptar. Há que partilhar um espaço que não cresce. Já há bons exemplos, mas é preciso mais, muito mais. Haverá escolhas difíceis. Haja a coragem de as fazer. Foram estas algumas das conclusões do Portugal Mobi Summit. “A cimeira em resumo” juntou em palco Pedro Homem Gouveia, sénior policy advisor da “Polis” e Charles Landry, cocurador da Portugal Mobi Summit.

“Quando eu nasci o mundo tinha 2,5 mil milhões de pessoas. Hoje tem mais de oito mil milhões. Claro que há mais carros! As cidades foram feitas para outro contexto”, afirmou Charles Landry. Como ideias a reter da Portugal Mobi Summit 2025, o autor de “A Cidade Criativa: Um Kit de Ferramentas para Inovadores Urbanos” destaca a visão da mobilidade como parte essencial de um contexto mais amplo que envolve habitação, gentrificação, qualidade de vida. Já o BRT, diz, será “uma grande discussão”: “20 vezes mais barato que o elétrico, 100 vezes mais barato que o metro. Dá que pensar!”.

Há bons exemplos em curso – o caso de Paris foi tema de um dos painéis da cimeira -, mas, alerta Charles Landry, “é preciso coragem, liderança e um avanço passo a passo”.

“Não estamos preparados para compreender este crescimento exponencial da tecnologia”, começou por concluir Pedro Homem Gouveia, questionado pelo curador da Portugal Mobi Summit, Paulo Tavares, sobre os grandes destaques da cimeira que, durante dois dias, se realizou no Auditório do IPMA (Instituto Portugues do Mar e Atmosfera), no passeio marítimo de Algés.

O homem que está na “Polis”, a rede de cidades e regiões europeias dedicada à inovação na mobilidade urbana, lembrou que, nos próximos anos, teremos cada vez mais diversidade de veículos e serviços a operar nas cidades – dos robotáxis aos robôs de entregas, das trotinetes às bicicletas de todo o tipo. “Precisam de sítio para estacionar, lugares e cargas e descargas, espaços para entregas…”, frisou, lembrando que isso exigirá “medidas de segurança e regulação”.

Por estes dias, falou-se de Madrid e Barcelona, do exemplo de Paris, discutiu-se Lisboa, a nova ponte, o novo aeroporto, o metro a sul do Tejo, das mais recentes tecnologias, mas a grande questão é, salientou, “pensar como queremos que as nossas ruas evoluam?” e planear.

“Qualquer que seja a inovação tecnológica – robotáxis, robôs humanóides, etc. – eles vão estar nas nossas ruas que as autoridades locais vão ter que planear, construir, gerir, manter e regular. Será desafiante”, continuou ainda a explicar.

O caminho não será o de um passeio na praia e “a tecnologia não nos dispensará de fazer escolhas difíceis”. O aumento do preço dos combustíveis está aí à porta. A tendência para limitar os carros nas cidades também. A partilha do espaço público será complicada, mas há pessoas a viver nos subúrbios que precisam de uma solução para as suas deslocações do dia-a-dia e o futuro tem que ser, acima de tudo, “inclusivo”.

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