“Diálogo entre engenheiros e juristas é crítico para não haver obstáculos à inovação”

Conferências
23-10-2025

A Europa foi deixada para trás, pelos Estados Unidos e pela China, no que à competitividade da indústria automóvel diz respeito. Em Portugal, para fazer face a essa estagnação, aposta-se na construção de veículos híbridos e em automóveis que, mais do que meios de transporte, pretendem ser serviços. Os desafios para o país na construção urgente de uma nova indústria automóvel estiveram em debate no Portugal Mobi Summit. E o diálogo entre os setores público e privado parece ser crucial para que não se trave a inovação.

A China apostou na mobilidade elétrica. Os Estados Unidos da América sobressaíram na área digital do setor automóvel. E a Europa, o que a fez não se destacar e ficar estagnada? No entender de Helena Silva, CTO do CEiiA – Centro de Engenharia e Desenvolvimento de Produtos, “a Europa foi muito ambiciosa na sua política climática, com metas muito ambiciosas para diminuir as emissões de gases de efeito de estufa, mas faltou um pouco de política industrial para fazer isso acontecer”. “Deveria ter sido uma oportunidade muito grande para a introdução de tecnologias disruptivas, que diminuíssem os custos da indústria automóvel e que fossem mais orientados para a forma como a sociedade está a evoluir. O automóvel já não é um elemento de luxo. É um meio de mobilidade, que faz parte de um ecossistema maior”, destacou Helena Silva, oradora no painel “Desafios para Portugal na construção urgente de uma nova indústria automóvel na Europa”.

João Caetano, presidente do Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT), entende que o legado europeu da indústria automóvel foi um dos entraves à inovação. “A China não teve de vencer nenhum legado, nenhuma barreira. Abraçou o desafio de raiz. Na Europa, temos a indústria automóvel, temos a indústria das IT [Tecnologias de Informação] e temos o setor da energia. E temos de ter estes três setores a conversarem uns com os outros. Estes desafios na mobilidade futura obrigam a um diálogo permanente e mais frutífero”, alertou o responsável do IMT, que também referiu o facto de a Europa ser “mais cautelosa” do que os outros países referidos, relativamente às preocupações com a segurança rodoviária – o que também poderá ter contribuído para o atraso.

Além da importância da comunicação entre os três setores fundamentais da nova indústria automóvel, para João Caetano é crucial, igualmente, que exista uma conversação constante entre “os setores público e privado”, nomeadamente no que à regulação diz respeito. “O diálogo permanente entre engenheiros e juristas é absolutamente crítico para que consigamos meter cá fora quadros regulatórios que não sejam obstáculos à inovação. Isto permite, do ponto de vista de quem está a desenvolver soluções, ganhar um ímpeto muito grande, do ponto de vista da maturidade dessas soluções”, realçou.

Com o novo panorama mundial, a indústria europeia teve de se reinventar. Exemplo disso é o caso da Horse, “spin-off” do Grupo Renault, que labora em Cacia, Aveiro. Da produção massiva de caixas de velocidade manuais e componentes de motores a combustão, passou, em poucos anos, para o desenvolvimento de novos produtos. Agora, aposta em motores elétricos e nos automóveis híbridos. Até porque, sublinhou Raynald Joly, diretor-geral da Horse Aveiro, “a perspetiva é que, em 2040, mais ou menos 30 milhões dos veículos vendidos, no Mundo, sejam de combustão interna híbrida”. Para inovar, a empresa tem privilegiado as parcerias. “Temos de fazer diferente do que fizemos até agora, buscando olhar para toda a cadeia de valor, desde a inovação nos combustíveis, biocombustíveis, combustão a hidrogénio, procurar inovação nas baterias e, também, dentro do próprio sistema híbrido de motorização e de transmissão”, explicou.

É com cunho português, também, que foi desenvolvido pelo CEiiA o “BEN”, anunciado por Helena Silva como “um e-car, que vai ser o próximo carro europeu, que será industrializado em várias partes da Europa e que será o próximo carro das cidades mais urbanas europeias”. “É um novo conceito de veículo, que integra o mundo digital e o mundo físico. É pensado para ser usado como um serviço e, portanto, tem de ter um baixo custo, tem de ser modular, tem de ser industrializado em qualquer parte da Europa e, na parte digital, tem de ser extensível e adaptável”, resumiu a CTO do CEiiA.

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