Transportes favorecem homens com empregos tradicionais e excluem milhões

Notícias (geral)
12-05-2025

A rede europeia de transportes está formatada para homens até aos 45 anos com empregos das 9h às 17h, falantes da língua local, e sem necessidades de assistência a menores, dificultando a vida de milhões, revela estudo do Eit Urban Mobility, uma iniciativa da Comissão Europeia para estudar e melhorar a mobilidade.

O sistema de transportes europeu está formatado para servir um grupo demográfico relativamente restrito: sobretudo homens com idades entre os 25 e os 45 anos de idade, que trabalham em empregos tradicionais das 9h às 17h, sem problemas de locomoção, isentos de responsabilidades de assistência a menores e que dominam o idioma local. São conclusões do último relatório do EIT, Urban Mobility, uma iniciativa da Comissão Europeia para melhorar a mobilidade e torná-la mais sustentável, a que o DN teve acesso.

Aquele modelo padrão em que assenta a rede de transportes não reflete, contudo, a realidade da sociedade europeia, cada vez mais dinâmica e diversa quanto às origens, idades, motivações e modalidades de trabalho. Por isso, a Comissão Europeia defende e apoia financeiramente a reestruturação do sistema de mobilidade nos estados membros, em linha com os objetivos de descarbonização. O Better Mobility Trend Report parte de dados do Eurostat para concluir que, neste momento, o sistema afasta muita gente e “precisa de ser mais inclusivo”. Segundo o organismo de estatística da Comissão Europeia, mais de 100 milhões de pessoas na UE têm responsabilidades de assistência a menores, outros 100 milhões vivem com incapacidades, e mais de 90 milhões têm mais de 65 anos. No caso das pessoas com mais de 80 anos, verificou-se mesmo que elas duplicaram na última década, pelo que é preciso encontrar modos de as incluir, a todas, no sistema de mobilidade, melhorando o seu acesso e tornando-o mais cómodo e eficiente. Quanto à língua em que as informações são prestadas, o turismo e os fenómenos migratórios em ascensão também aconselham atenção neste domínio.

A necessidade de melhorar as redes de transportes coletivos, quanto à inclusão, mas também quanto à interoperabilidade entre vários modos de mobilidade (comboio, autocarro, barco, bicicleta ou trotinete) é apontada não só para melhorar a qualidade de vida, mas também para facilitar o funcionamento das metrópoles. De acordo com as estimativas indicadas no relatório, a concentração populacional nas cidades deverá continuar a aumentar, prevendo-se que mais de 80% da população europeia vai viver em cidades até 2050.

Com a crescente urbanização, as alterações climáticas e a instabilidade económica, já não é viável ter um modelo de transporte igual para todos”, indica o relatório. E aponta vantagens sociais, económicas e ambientais em apostar nauma abordagem diversificada. Com a transição para uma mobilidade mais partilhada e sustentável, prevê “menos 70% de lesões e mortes em resultado de acidentes automóveis que correspondem a uma poupança à volta de 11 mil euros per capita até 2050”.

Se olharmos para a vertente da saúde, a adoção de modos de transporte ativos (como andar a pé e de bicicleta) pode gerar uma poupança de 1170 euros per capita entre 2022 e 2050 para o sistema de saúde, dependendo da quantidade de viagens trocadas por modos de mobilidade ativa. Encorajar a mudança de hábitos nesta matéria torna-se muito relevante, se tivermos em conta um em cada quatro europeus deverá ter mais de 64 anos até 2030.

Se as contas forem feitas em termos ambientais, o estudo do EIT Urban Mobility estima uma poupança com a baixa de emissão de gases com efeito de estufa equivalente a 4 mil euros per capita. A poluição atmosférica está associada a sérios problemas de saúde. Nos termos do Green Deal fixou-se o objetivo de um aumento de 7% no uso de transportes coletivos e uma redução de 16% no uso de carro individual até 2030.

Por todo um conjunto de vantagens sociais, económicas e ambientais, o relatório defende a construção de um sistema holístico, que assegure um acesso a todos, independemente do género, rendimento ou localização, sem barreiras, com soluções digitais e também numa lógica de cooperação transfronteiriça.

E como é que isso se consegue? Primeiro, defende-se uma aposta na simplificação, com um sistema unificado e em que um só

o ponto de acesso abra a porta a vários transportes com uma bilhética integrada e pagamento digital. O estudo aponta como uma boa prática, nesta matéria, o austríaco Klima Ticket, que é um bilhete fácil e acessível que dá acesso a todos os transportes públicos naquele país.

Após a aprendizagem com a pandemia Covid-19 e da valorização crescente do espaço público, o relatório advoga também um redesenho das cidades num formato mais amigável, com mais espaços verdes e áreas de convívio e para circular a pé, bem como um urbanismo de proximidade, com serviços a curta distância. O exemplo de Paris, cidade em que foi criada uma área de espaços verdes equivalente a 100 hectares, é apontado como uma boa prática.

O relatório identifica oportunidades de inovação tecnológica aplicada à mobilidade nas questões da saúde, dos idosos e dos estrangeiros, pois só 5% das soluções tecnológicas estão focadas no turismo e 10% na saúde, mesmo que esses duas áreas sejam as maiores tendências. Só 3% das soluções inovadoras estão voltadas para turistas, subestimando o grande potencial deste segmento. E conclui que as soluções para promover a saúde estão também subrepresentadas nos serviços tecnológicos de mobilidade destinados às famílias.

 

Carla Aguiar (Texto)


 


 


 

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