“A multimobilidade nunca foi pensada para favorecer a sustentabilidade”

2022
28-09-2022

Partilhar mais informações entre empresas e utilizar melhor as infraestruturas que já existem para garantir uma mobilidade mais sustentável nas cidades foram algumas das ideias deixadas pelos oradores, no debate “A Sustentabilidade na Mobilidade de Pessoas e Bens”.

Garantir uma mobilidade sustentável é um dos maiores desafios das cidades para os próximos anos e Artur Pedrosa, administrador do Grupo Barraqueiro, admitiu, esta manhã, que “as empresas se atrasaram muito a acompanhar a questão tecnológica sobretudo no que diz respeito ao transporte urbano”. “Acaba por ser demasiado importante para não termos evoluído com a velocidade necessária”, reconheceu o primeiro orador a intervir no debate “A Sustentabilidade na Mobilidade de Pessoas e Bens” no arranque da Mobi Summit.

Para Artur Pedrosa é “fundamental” utilizar-se a rede de transportes de uma forma mais eficiente e “tornar o sistema que existe na cidade multimodal”, o que considerou estar ainda longe de acontecer. “Temos o metro de Lisboa e por cima linhas da Carris a fazer a mesma coisa. A multimobilidade nunca foi pensada para favorecer a mobilidade e a sustentabilidade”, criticou. Artur Pedrosa sugeriu ainda que se “desinvista em áreas que é um desperdício e se invista noutras que podem ser mais sustentáveis”.

Eduardo Ramos, administrador da Brisa, também defendeu que “não temos um sistema de transportes eficiente” e que “não pode existir uma demonização dos carros nem total rejeição dos modos partilhados e coletivos”.  “Os fluxos de mobilidade hoje têm mais pontos de dor do que experiências positivas.  A nossa gestão e organização dos transportes não é propícia a que estes pontos de dor sejam minimizados”, observou.  O também CEO da Via Verde lembrou que precisamos de estar atentos a dois grandes fenómenos, o “novo mundo do trabalho” depois da pandemia covid-19, que vai influenciar a mobilidade, e a explosão do comércio eletrónico.

A propósito dos fluxos de mobilidade dentro das cidades, Diogo Santos, partner da Delloit, alertou para o “fluxo absolutamente crítico de mercadorias” para “centenas” de hotéis e “milhares” de lojas, em Lisboa, e considerou que “um bom sistema de mobilidade de infraestruturas nas cidades passará por veículos mais verdes e partilha de informação entre vários operadores”.

 “Se pensarmos no setor da aviação comercial e fizermos o paralelismo com a mercadoria de bens em meio urbano, é pensarmos que cada companhia aérea não tem o seu aeroporto. As companhias de aviação partilham aeroportos e os operadores logísticos poderiam partilhar infraestruturas logísticas”, exemplificou.

Diogo Santos frisou ainda a importância da “partilha de dados entre vários operadores”, uma ideia defendida também por Eduardo Santos. “Preocupa-nos bastante o ‘governance’ de dados. Hoje em dia é tudo muito ciumento com os seus dados e temos de ser capazes de ter maior partilha disso”.

A pressão “muito grande” pelos preços para viabilizar os modelos sustentáveis foi outro dos temas abordados no debate sobre “A Sustentabilidade na Mobilidade de Pessoas e Bens”. Artur Pedrosa alertou para “a subida significativa de custos” e disse que “vivemos uma falta de mão de obra enorme que inevitavelmente vai fazer com que os custos subam”.

“Tem de haver um esforço muito grande para racionalizar todos os investimentos que se fazem a nível do país de forma a que se possa atenuar este avanço tão violento dos custos. É um trabalho muito importante e infelizmente não o vejo a ser feito”, criticou.

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