Dragagem do Tejo pode retirar mais de 30% de camiões das estradas

Conferências
22-10-2025

Presidente da APL defende que o Tejo tem potencial para tornar-se uma "autoestrada sustentável" de mercadorias. A melhoria da navegabilidade do rio permitirá retirar camiões da estrada e repensar a logística.

A dragagem do rio Tejo para permitir a navegabilidade de barcaças de transporte de mercadorias, independemente das marés, pode retirar mais de um terço dos camiões que diariamente saem do Porto de Lisboa num prazo de 10/20 anos, revelou esta quarta-feira, 22 de outubro, Vítor Caldeirinha, presidente da Administração do Porto de Lisboa (APL), na conferência Mobi Summit, que decorrre em Algés. E não serão precisas muitas barcaças. "Entre seis a dez, dependendo da sua capacidade", adiantou. O Porto de Lisboa regista cerca de 600 mil movimentos de pesados de mercadorias por ano e o Tejo tem potencial como "autoestrada sustentável", sublinhou.

 

Vítor Caldeirinha lembrou ainda que o projeto poderia estender-se à logística. Na sua intervenção no painel "Travessias – o Tejo como chave na mobilidade metropolitana questionou": "Porque não a distribuição ser em barcaças e em veículos elétricos no última milha?". Na sua opinião, este é o caminho do futuro do transporte de mercadorias em Lisboa, num percurso que envolverá investimento público e privado, nomeadamente por via de concessões. O presidente da APL lançou ainda o desafio para uma aposta em barcaças elétricas.

 

No painel, ficou clara a importância estratrégica da terceira travessia sobre o rio Tejo, mas também a dificuldade do país em concretizar projetos. Joana Baptista, vereadora da Câmara de Oeiras e eleita nas últimas autárquicas para Lisboa, colocou a tónica da sua intervenção na dificuldade em "fazer". Segundo defendeu, "o problema do país é executar". Os projetos não avançam "porque há bloqueios administrativos e técnicos". Já estudos, sobram, dissse. "Quantos estudos é que o nosso país já contratou, quantos estudos e projetos existem nas gavetas para a terceira travessia, para a quarta travessia, para aquilo que é a reabilitação de áreas urbanas degradadas?", perguntou.

 

Opinião diferente apresentou Susana Castelo, administradora delegada da TIS. A consultora defendeu a necessidade de estudar os projetos, porque sofreram alterações, assim como a mobilidade na Grande Lisboa. "Há 20 ou 30 anos não se pensava que o transporte público na terceira travessia seria ferroviário, não havia esta noção de haver um corredor de transporte público no eixo rodoviário, não se tinha esta consciência do papel que o transporte público pode ter na deslocação das pessoas entre margens", elencou.

 

Para Susana Castelo, a rede de transportes públicos da Grande Lisboa tem de ser repensada. "Nós já não estamos numa área metropolitana centrada em Lisboa, Oeiras conquistou aqui um papel, Almada tem um papel, assim como outros concelhos, e há um cruzamento de movimentos. As pessoas já não vão todas para a Baixa como há três ou quatro décadas. Na sua opinião, estas alterações exigem respostas "mais inteligentes" e "melhores condições" nos transportes públicos. E sublinhou: A probabilidade de utilizar o carro aumenta se a via estiver congestionada para autocarros e para automóveis.

 

Já Faustino Gomes, presidente da Transportes Metropolitanos de Lisboa, lembrou que a operação tem vindo a crescer. "Nós de 2024 para 2023 crescemos 24%, e quando comparamos idêntico período de 2025 com 2024 estamos a crescer 14% a 15%". Este responsável anunciou também que dentro de três meses será disponibilizada uma aplicação digital Navegante, onde o utilizador dos transportes metropolitanos poderá adquirir bilhetes. Neste momento, "estamos a testar. Não queremos lançar produtos que depois falhem", disse.

 

 

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