
COP30 revolucionou malha urbana de Belém até com chegada de BRT

O governo do Pará inaugurou o sistema de Metrobus a 31 de outubro, na cidade que recebe a COP30, e espera que revolucione a mobilidade na Região Metropolitana de Belém, quer para os habitantes locais, quer para os mais de 40 mil visitantes esperados durante os dias da Conferência do Clima das Nações Unidas, entre 10 e 21 de novembro.
O BRT de Belém é integrado no sistema coletivo de transportes e, com a sua entrada em funcionamento, vai gerar mais de mil empregos e garantir passes únicos aos 8,7 milhões de habitantes do estado do Pará, garantindo a ligação dos vários meios aos novos terminais de Marituba e Ananindeua.
O governo estadual apresenta o projeto de mobilidade urbana como um marco na qualidade de vida de mais de 700 mil passageiros, que utilizam o transporte público diariamente, ao incluir na infraestrutura novos terminais e uma frota de 265 veículos novos, que, diz o executivo, “marcam o início de uma nova era nas deslocações entre a capital e os municípios vizinhos, oferecendo mais conforto, segurança e rapidez à população”.
A principal inovação do sistema é a integração tarifária, que permite ao passageiro utilizar diferentes linhas, sendo que o valor é o mesmo, seja adquirido na capital ou noutra zona da região metropolitana. O bilhete tem preço de 4,6 reais (cerca de 0,75€) e será mais barato para estudantes com preço a rondar os 2,30 reais (0,37€), além de ser gratuito aos domingos e feriados.
O sistema BRT de Belém foi concebido para responder à procura de moradores de Marituba, Ananindeua, Benevides, Santa Bárbara, Santa Izabel e Castanhal, que antes, por exemplo, numa deslocação até à Universidade Federal do Pará gastavam 14 reais e agora passam a gastar dez vezes menos.
O projeto custou quase meio bilião de reais (cerca de 81 milhões de euros). Ao todo, foram precisamente 423,7 milhões, mas para o governador Hélder Barbalho, a mudança representa mais que uma economia de tempo e de dinheiro, e durante a cerimónia de inauguração, afirmou que “o BRT representa revolução, modernização e menos tempo perdido. As pessoas podem deixar de passar horas no autocarro, podem ficar com a família, podem chegar mais cedo em casa, podem dormir até um pouco mais tarde, porque não precisam madrugar e disputar a vaga numa paragem de autocarro. Estamos avançando para melhorar a vida, para melhorar os serviços públicos para a sociedade”.
Contudo, o governador do Pará reconhece que a sua implementação não foi tarefa fácil e agradeceu à população da Região Metropolitana pela paciência e compreensão durante o período de obras, que foram descritas como "profundamente difíceis" e "problemáticas", devido à necessidade de intervir na única via de entrada e saída da capital.
Já a vice-governadora do Pará, Hana Ghassan, realçou a importância da obra para a economia local, uma vez que a operacionalidade do novo sistema é responsável pela criação de 850 empregos diretos e mais de mil indiretos, abrangendo motoristas, retaguarda, gestão e serviços nos terminais. Ouvido pela imprensa local, Erick Silva, motorista rodoviário há onze anos, destacou a melhoria nas condições de trabalho, pelo conforto que os veículos de Metrobus proporcionam aos trabalhadores, por serem dotados de ar condicionado e possuírem sistemas elétricos e automáticos, “coisas que não tinham no Estado".
O novo sistema de transporte iniciou a sua operação assistida de forma gradual, com comunicação detalhada sobre linhas e trajetos sendo divulgada nos meios digitais e na imprensa, garantindo que a população possa se ambientar com o novo modal.
A sua concretização resultou de uma ampla parceria institucional, que incluiu colaboração do Governo Federal, através do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e dos ministros Jader Filho (Cidades) e Rui Costa (Casa Civil), que permitiram o financiamento dos veículos, concretizado pela Assembleia Legislativa do Estado (Alepa), que viabilizou um empréstimo com a JAICA (agência de fomento do Japão).
Sprint na construção de ciclovias para a COP30
Belém está agora entre as 10 capitais brasileiras com mais ciclovias. Conseguiu construir 164 km em toda a malha urbana da cidade, a tempo da realização da COP30, e expandir outros projetos de mobilidade urbana, como o designado Parque Belém, mais conhecido como Parque Estadual do Belém Manoel Pitta, e outros espaços públicos foram reformulados, com pistas de skate, bairros e áreas para atividades físicas e lazer.
Mas, por estes dias, é visível nas ciclovias, em especial na parte mais antiga da cidade, ver a área dos ciclistas invadida por motorizadas, além de buracos e asfalto partido, a revelar pouca manutenção e com um calor médio diário a rondar os 30 graus, só no início da manhã, ou no final da tarde, se vê gente a andar de bicicleta.
Apesar das avenidas largas e arborizadas, muitas não têm faixas laterais para ciclistas, outras são estreitas e competem no espaço com carros e motos e com regularidade também se veem crateras nos passeios ou calçadas, além de estacionamentos em sítios exclusivos para peões. A falta de rampas e os desníveis entre os passeios e as ruas também dificultam o percurso dos peões.
Polémica com construção de novas vias e viadutos
Os brasileiros chamam “Geladão” aos autocarros da rede de transportes coletivos equipados com ar condicionado, mas mesmo com novos projetos, há defensores do transporte público a queixarem-se nos vários fóruns locais nas redes sociais. Reclamam melhorias, mais faixas exclusivas e corredores para autocarros, mais abrigos e informações nos pontos de embarque.
O governo local construiu novas vias e viadutos para escoar o fluxo diário de trânsito, mas há quem se queixe de que apenas estão a servir de atalhos para novos congestionamentos, formados pelo contínuo aumento de carros em circulação.
A construção de cinco viadutos na região metropolitana e uma nova via com extensão de 13 km, chamada de “Avenida Liberdade”, criou polémica, por cortar alegadamente uma extensa área de floresta amazónica, tal como foi noticiado por vários órgãos de comunicação social nacionais e internacionais.
Outro problema sentido por quem visita a cidade pela primeira vez é o mau cheiro proveniente de valetas e quando se pergunta a um habitante local a que se deve, não é difícil responder que 80% da população de Belém não tem tratamento de esgotos e que o saneamento básico foi um dos investimentos anunciados antes da COP30.
Há ainda quem reclame a chegada do VLT (Veículo Leve sobre Trilho, ou Metro Ligeiro de Superfície) para Belém, tal como aconteceu no Rio de Janeiro, quando recebeu os Jogos Olímpicos de 2016, o que ajudaria a descongestionar as vias principais. Uma simulação feita por inteligência artificial em abril, divulgada pelo grupo Amazónia Urbana, mostra como ficaria a área do Ver-o-Peso com este tipo de solução, sem carros e com espaço para ciclistas e mais apetite para degustar a maniçoba e o açaí, típicos da região.
Cid Kamijo é um ciclista de 46 anos, que pedala há pelo menos 20 anos e é administrador do grupo Bike Belém. Numa entrevista ao jornal digital “O Liberal.com” no dia do Ciclista, que se comemora a 19 de agosto (em homenagem a Pedro Davison morto em Brasília por atropelamento em 2006), afirmou que ao promover passeios noturnos pela cidade e eventos de ciclismo de longa distância é visível a disputa de espaço entre ciclistas e motards. O que, segundo ele, acontece pela falta de infraestrutura adequada das ciclovias e obriga os ciclistas a dividir o espaço que muitas vezes é feito sem planeamento, fiscalização ou conservação.
Para este veterano da bicicleta, há ainda o que chama de “ignorância do próprio ciclista” que, por não ter orientação nem treino, não tem conhecimento, não sabe os seus direitos e deveres no trânsito, pondo-se em risco desnecessariamente.
Para Cid há ainda outra evidência. Os motards só se comportam de maneira correta se existir fiscalização, caso contrário, tentam tirar partido da vantagem de conduzir um veículo mais rápido de duas rodas no mesmo espaço dos ciclistas, defendendo a urgência de alinhar estratégias de definição de necessidades de classe junto do poder público. Munido de estudos, considera que o ideal seria seguir o exemplo do que é praticado na Holanda, que “deu prioridade à procura deste tipo de veículos de duas rodas e hoje é um exemplo para o mundo”.









